De 3 a 6 de março de 1973, em Lagoa
Seca, PB: o 1º Acampamento da Jubaíba foi a prova de fogo decisiva para a
juventude estadual. Só consegui destacar na foto, a partir da primeira fila e
da esquerda para a direita: Ademar Barbalho, Eliel Lourenço, Júnior (filho de
Yara e Tota), Edilson (filho de Abner Jorge), Paulo Faustino, Jáder (filho do
pastor Firmino), Joabe Correa Costa; segunda fila e no mesmo sentido: Waldir
Lucena, Sílvio Farias (coberto parcialmente pela mão de Paulo), Eliam Bastos;
terceira fila, também da esquerda para a direita: Joseli Bastos, Joran Correa
Costa, Luiz Carlos Farias, Gustavo Faustino, Francisco Carlos Farias (de
perfil), Eliezer Lourenço, Tomaz Munguba, Renivaldo Rufino; quarta fila, no
mesmo sentido: Misael, Rui Farias, Zueudon Lucena, Ademir Simões. Quanto à
garota que foi congelada pela foto enquanto corria para se juntar ao grupo,
infelizmente não dá para saber quem é, a não ser que o olhar de Joabe seja
revelador: seria Débora Costa? Talvez só a própria Débora saiba responder. Solicito
ajuda de quem tiver acesso ao texto, a fim de identificar outras pessoas e me
comunicar pelo Whatsapp ou então registrar nos comentários do próprio Blog,
mencionando a fila onde se encontra. Ao comentar, lembre-se de registrar seu nome logo após, para que eu possa
identificar de quem se trata.
A JUBAÍBA RENASCE
DAS CINZAS
ℛenivaldo
ℛufino
Feito a fabulosa Fênix, a Jubaíba como que renasceu
das cinzas quando nem bem acabara de nascer. Parece até contraditório. Foi uma espécie de morte
prematura e de renascimento. Era mais um teste
difícil na vida da juventude que ainda dava seus primeiros passos como
organização. Aquela
experiência dramática colocou a liderança em xeque. Mesmo assim, o momento foi de extrema alegria e realização,
apesar da verdadeira prova de fogo pela qual passou, pois o que ocorreu no
primeiro acampamento quase sepulta a Juventude Batista da Paraíba para sempre.
O
Jornal Batista [i]
apresenta o drama com muita brandura. A linguagem
utilizada no artigo se prende mais ao espiritual, com aquela nuance maniqueísta
de luta entre o bem e o mal, e tenta escamotear tudo que ocorreu em termos
físicos, reais e quase intransponíveis humanamente falando. Nada do que de fato
aconteceu nesses termos foi publicado na época, talvez por questões éticas. O
mesmo tipo de ética está sendo seguido agora, pois alguns nomes são omitidos da
narrativa. As observações feitas no jornal, entretanto, foram validadas pela
boa vontade do escritor ao tentar repassar, com plena consciência, as
dificuldades enfrentadas naquele que foi o primeiro encontro da Jubaíba no ano
seguinte à organização. Foi uma difícil prova que testou a resistência não só
do jovem presidente Eliezer Lourenço, mas da diretoria e de alguns pastores
presentes, inclusive do Conselheiro, pastor Baruch da Silva Bento. O
pequeno e danificado barco ia soçobrando diante do porto seguro que já estava à
vista. Para utilizar uma espécie de paráfrase
com uma canção utilizada na época pela juventude evangélica, era como se a Jubaíba
estivesse enfrentando as revoltosas ondas do mar da vida, com pouquíssima ou
nenhuma chance de sair ilesa.
Aguardar o primeiro acampamento foi
ainda mais emocionante do que a espera do encontro para a escolha do símbolo [ii], haja vista se tratar de um projeto bem mais ousado. A diretoria demonstrara
capacidade de liderança, respondendo aos desafios de maneira coesa. A resposta positiva de jubaibanas e jubaibanos diante da
convocação, feita com a devida antecedência, assegurava ainda mais que a
organização estava no caminho certo para prosseguir em passos largos com vistas
ao futuro que aos poucos se faria presente.
Todos
os olhares se voltavam para o Acampamento Batista de Lagoa Seca, cidade próxima
a Campina Grande, onde o encontro se realizaria. As acomodações físicas estavam
muito aquém das reais necessidades da demanda de jovens que desejavam
participar. A liderança batista da Paraíba, ao que tudo indica, jamais imaginou
que o surgimento e rápido crescimento da organização da juventude explodisse ao
ponto de tornar aquele espaço um tanto obsoleto para os fins propostos. Esse
obstáculo, todavia, em nada impediria a consecução dos objetivos. Houve uma
espécie de quebra de paradigma. A falta de espaço não gerou desistência, mas resoluta
insistência. Além de moças, rapazes e alguns
adultos, até adolescentes e crianças se fariam presentes ao encontro tão
esperado por todos. A pacífica revolução atingia os mais distantes rincões do
vasto território paraibano. Todo mundo estava em polvorosa com a possibilidade
de reunir tanta gente em espaço tão pequeno. Esses detalhes estão explícitos no
Jornal Batista da época.
Segundo
a reportagem do jornal, as vagas disponíveis eram 150. A procura foi bem maior.
Era preciso, portanto, fechar as inscrições, e assim se procedeu bem antes do
tempo previsto. Quando as igrejas da capital pediram
mais vagas, o jeito foi dar um jeitinho paraibano e colocar quatro pessoas em
três colchões. Ainda bem que ninguém reclamou, pois onde existe amor e compreensão
sempre cabe mais um. Foi preciso reforçar os víveres para alimentar tanta gente.
O impasse da procura gradativa, e até certo ponto também inesperada, deixou a diretoria
atônita, apesar de o planejamento ter começado com seis meses de antecedência. É numa hora dessas que o
improviso vale mais que um milhão, além, é claro, de muita determinação e
criatividade, que foi o que jamais faltou à incipiente turma de jovens que
enfrentava tão grande desafio. Já que a Jubaíba nascera para ser grande, pois
esse era seu intuito, os responsáveis pensaram em inaugurar a era desses
encontros com um grande acampamento, sem sequer imaginar a surpresa que os aguardava
e que poderia levar tudo de água abaixo.
Foi preciso, mais uma vez, como
ocorrera no momento escolhido para vestir a Jubaíba de cores e símbolos,
recorrer aos préstimos e à arte singular de Jeová e seus peritos auxiliares,
que prepararam todo o material necessário: faixas, cartazes, programas, lista
de cânticos, cardápio para cada dia, e tantas outras coisas. Tudo era novidade e, ao mesmo
tempo, uma espécie de teste de aprendizagem de quem teria muito a realizar
no futuro próximo. Como é enfatizado no artigo do jornal, “para a recém-nascida Jubaíba, era uma
tarefa gigantesca a realizar: um acampamento congregando jovens de todo o
Estado da Paraíba”. A receita de sucesso para o empreendimento deveu-se
à beleza do trabalho em grupo e do esforço de todos e todas como se fossem uma única
pessoa. A diretoria se multiplicou em pequenas células responsáveis pelos
mínimos detalhes, desde esporte e música, até alimentação e cozinha,
alojamentos e sua manutenção, além de outros pormenores importantes para o bom
andamento do projeto desafiador. Tudo
feito com esmero, dedicação e boa vontade, na expectativa de que iria dar
certo. A senhora responsável pelo espaço ainda tentou intervir na cozinha, mas
as meninas jubaibanas, guerreiras, não permitiram, e saíram aprovadas naquele
que foi seu primeiro teste.
E no dia 3 de
março de 1973, conforme se lê no artigo, “instala-se o Acampamento. São
distribuídos os programas: uma beleza em estética, em cores, em detalhes. O
símbolo da Jubaíba na capa, em belíssimo verde-amarelo, e toda a programação
para os três dias e meio. Tema: Com Cristo tudo vai mudar. Divisa: Deuteronômio
6.18a. Hino: Tudo isto vai mudar (do hinário Boas Novas). Preletores: pastores
Tomaz José de Aguiar Munguba – 1ª de João Pessoa, José Ednaldo Cavalcanti ‒ 1ª
de Campina Grande, e Bill Fallaw ‒ Evangélica Batista de João Pessoa. E sai por
ali a fora em descrições, em dados, em aconselhamento”. Ainda hoje causa
arrepio só imaginar o imenso peso que recaía nos ombros da diretoria e da
juventude estadual. É certo que os
jovens não estavam sozinhos na batalha, pois contavam com a presença de três
líderes de vasta experiência, que eram também pastores de três importantes
igrejas, além do eficiente Conselheiro, pastor Baruch. O clima efervescente e a confiança crescente tomaram conta de todos,
sobretudo dos corações mais temerosos, se é que havia algum.
O domingo chegara promissor. A aparente noite de repouso e
paz que se seguira à abertura do acampamento causou excelente impressão nos
organizadores. O Jornal Batista enfatiza: “Domingo de manhã inspirativa. Todos sobem ao monte que fica a alguns
metros do local das reuniões, para o Jardim de Oração, com o pastor Bill
Fallaw. Que maravilha! ‘Bem de manhã’ lá naquele alto, com uma visão panorâmica
da paisagem esverdeada, do asfalto cortando os morros, do sol nascente. Muito
bonito! Muito inspirativo! Jardim de Oração! A tranquilidade é a tônica
principal neste dia. O estudo com o pastor José Ednaldo ‒ Com Cristo um homem
mudou de nome (Paulo), foi rico! O pastor Tomaz Munguba, à noite, deu os
retoques finais, com u’a mensagem que abalou profundamente os corações”. Apesar
de tudo isso, a ventania já dera sinais de que alguma tempestade estava a
caminho. É justamente em meio a esse clima que o forte vento chega com
força irresistível e, para usar uma metáfora, tenta destruir a ainda pequena e
frágil embarcação que é a Jubaíba, obstruir o acampamento e sepultar para
sempre a própria organização recém-criada.
Para melhor entender o impasse, é preciso voltar no tempo ao
luminoso momento quando Eliezer Lourenço da Silva declara aberto oficialmente o
Primeiro Acampamento da Juventude Batista da Paraíba. Entre os ilustres
presentes estava um jovem seminarista. O presidente usa dos atributos que lhe
são conferidos e, como sinal de boas vindas e consideração, concede o título de
Presidente de Honra ao jovem, que parece não entender que se trata de um título
honorífico e simbólico concedido pela bondade do presidente da Jubaíba. Ou
seja, ele não seria o presidente de fato e de direito, com a função específica
de presidir o acampamento no lugar da diretoria, mas apenas alguém homenageado
com um mero e honroso símbolo. Ocorre
que esse não foi seu entendimento, pois a partir dali começou a presidir e
submeter a juventude a sua vontade soberana e autoritária. A coisa pegou
todo mundo de surpresa. Os jovens se rebelaram de imediato, e os sinais já
começaram a aparecer na primeira noite. Por conta disso, como que fazendo uma
brincadeira ao mesmo tempo criativa e de protesto, deram-lhe o título jocoso e
nada honroso de “Presidente Dedo Duro”. A situação se tornou vexatória para
todo mundo, sobretudo para a diretoria. O impasse estava posto e ninguém sabia
o que fazer naquele primeiro momento.
O resultado da revolta ocorria no
dormitório masculino e sempre à hora do repouso noturno. Era o panelaço da época. O barulho
que se ouvia, entretanto, não era de panelas, mas de pregos e outros objetos
que zuniam de ponta a ponta do dormitório. Arremessados
quando as luzes já estavam apagadas, passavam entre os beliches e colocavam em
risco a integridade física dos jovens. O clima piorava cada vez mais e a
maioria reclamava do novo presidente e de sua péssima administração. A
situação chegou a um ponto tão delicado, que o Secretário Executivo do Campo,
missionário Edward Bruce Trott, sugeriu chamar a polícia para intervir. Mas já
que a Jubaíba nasceu independente, Eliezer agradeceu a boa vontade dele e disse
que as providências seriam tomadas pela própria diretoria. A liderança decidiu se
reunir ao lado do dormitório masculino, já em horário avançado. Mesmo assim, e
apesar do completo silêncio, os jovens estavam atentos e de ouvidos ligados no desenrolar
e desfecho da reunião, sem nenhuma preocupação em dormir.
O presidente de honra se fez
presente à reunião solicitada pela diretoria, apesar de não ser essa a ética
recomendada num caso desses, pois ele não fazia parte oficial do grupo. Quem entende de normas
parlamentares sabe muito bem disso. A presença
dele foi danosa, inclusive naquele momento.
Enquanto os jovens estavam em completo silêncio no dormitório à espera
do resultado, alguém da diretoria teve uma ideia para tentar resolver a
dificuldade e apaziguar os ânimos: iriam ao dormitório para uma palavra de esclarecimento
e orientação. O dito presidente, que não era presidente, observou:
“Tenho dúvida de que essa ideia venha de Deus”. Quem propôs, não disse que a
ideia viera de Deus. O que ficou claro, então, é que viera do opositor. Apesar
disso, a liderança chegou ao consenso de ir ao dormitório conversar com os
jovens. Chegaram, acenderam as luzes, pediram e receberam a atenção e apoio de todos,
que imediatamente já ficaram sentados nos beliches. A palavra foi de nivelamento:
presidente da Jubaíba, pastores, jovens e toda a diretoria. Ninguém ali era
melhor do que ninguém, superior ou inferior a ninguém. Era todo mundo igual,
apesar de desigual em sua individualidade. Cargos e títulos são provisórios e
não dão aval de atitudes de violência ou autoritarismo. Eram iguais e estavam todos no mesmo barco, que corria o risco
de afundar. Enquanto
isso, a superlotação do dormitório feminino também aguardava ansiosamente o
desfecho da reunião idealizada pelo inimigo. Cerca de três componentes da
diretoria usaram a palavra e, no final, pastores Tomaz e Bill oraram. Todos
ficaram espontaneamente de joelhos, inclusive os pastores e os membros da
diretoria. Depois disso, os ventos emudeceram,
sopraram favoravelmente, as ondas se acalmaram e o mar voltou à tranquilidade e
bonança.
A
partir dali, tudo mudou para melhor. Os jovens entenderam a mensagem trazida
pelos líderes e responderam afirmativamente. Pena que o presidente de honra nem
mesmo assim renunciou ao equivocado posicionamento por conta de seu título
simbólico e provisório, apesar de não ser das pessoas mais bem comportadas do
seminário onde estudava. A juventude soube absorver a situação de impasse e absolver
o principal envolvido. Quer dizer, o inimigo atuara de maneira pacificadora e
benéfica.
O dia seguinte, e isso desde o
encontro matinal, foi momento de confissão de boa parte da juventude, sobretudo
dos rapazes: orgulho, ódio, inveja e desprezo que sentiam uns pelos outros, até
mesmo pelo presidente e membros da diretoria, foi tudo confessado à viva voz através
do serviço de som, com direito a abraços de reconciliação e brinde com lágrimas,
muitas lágrimas. Foram momentos muito fortes, emocionantes e inesquecíveis de uma guinada da
Jubaíba nas águas do mar da vida. Até o tema do acampamento sofreu
significativa modificação. A juventude chegou
ao local sob a temática “Com Cristo tudo vai mudar”, e saiu de lá com o
benéfico e revolucionário efeito de que “Com Cristo tudo mudou”. Finalmente, a
embarcação acertou o rumo em direção ao porto seguro, o que não quer dizer que
dali em diante seria tudo calmaria.
[i] Conferir O Jornal Batista de 29.iv.1973.
[ii]
Conferir publicação neste Blog: “Jubaíba vestida de cores e símbolos”.
Caro Renivaldo,
ResponderExcluirParabéns pelo texto, mesmo não estando presente, apenas com a leitura foi possível sentir toda a emoção daquele momento. Você conseguiu descrever em palavras praticamente todo o ocorrido,
e nos fazer sentirmos como se lá estivéssemos.
Abraços
Querido DIVANILSON MOURA,
Excluirsou grato pelas suas palavras de consideração e apoio em torno do texto, pela sua apreciação pessoal e pelo grande incentivo, o que me impulsiona a continuar nesse caminho de tentar colocar no papel e transferir aos leitores e leitoras os meus sentimentos mais caros e mais profundos. Fortíssimo abraço, meu amigo!
Jubaíba foi na minha vida um marco de transformação e mudança. Era um acampamento batista com enfoque intedenominacional, a Mocidade Presbiteriana de Campina Grande era freguês número 1 de lá. Sempre fazíamos acampamento lá. PR.Baruch e Bill Fallaw e Munguba, Junto com Esmael Feijó e Ageu Lídio Pinto davam um Show de homilética e exegese em suas pregações. Hj Bispo da Fonte da Vida levo em minha experiência de vida os bons momentos de encontro com Deus nesses acampamentos.
ResponderExcluirMeus agradecimentos, MARCOS JOSÉ DA SILVA, pelo seu comentário.
ResponderExcluirConheci o pastor FEIJÓ e sempre tive muita admiração e respeito por ele. Era, de fato, um grande e apreciado pregador.
O ALGORITMO CONTINUA DEFASADO EM CINCO HORAS
Agora são 20h55
Esse texto está carregado de lembranças, doces lembranças. Só quem já participou de acampamento sabe o que significam os fatos aqui registrados. Como sempre, muito bem escrito, encontramos algumas figuras de linguagem que enriquecem o texto. Parabéns ,Renivaldo.
ResponderExcluirGERUZA VIANA, querida amiga, professora da UPE, Universidade de Pernambuco, desculpe a demora, mas é que nem sempre retorno aos textos publicados. Hoje resolvi dar uma olhada geral e me deparei com esse seu lindo comentário, que se torna tão estimulante a mim, um mero iniciante nessa bela arte dominada plenamente por você. Fiquei profundamente emocionado e agradeço de coração, tanto pela leitura do texto quanto pelas palavras de apreciação e estímulo.
ResponderExcluirAgora são 15h49