domingo, 6 de setembro de 2020

A JUBAÍBA PEQUENINA

 


Minha neta Bianca veste camisa original do 3º Acampamento da Jubaíba, Juventude Batista da Paraíba, 1975, que já serviu a titio Joran, mamãe, irmãzinha Beatriz e priminho Nicolas, quando nessa mesma idade. Bianca está hoje com um ano e sete meses.   


A JUBAÍBA PEQUENINA

enivaldo ufino

O fim da tarde da segunda-feira 13 de janeiro de 2020 foi um momento histórico e agradável, com grande farra na sala do nosso apartamento em Recife. Bianca era a estrela da vez e atraía olhares e atenção. Só faltava o tapete vermelho. Exibia suas proezas com movimentos ágeis e incessantes. Palmas saúdam mais uma nova façanha da pequerrucha assim num abrir e fechar de olhos. Risonha como é, batia palmas, soltava gritos e gargalhadas, mesmo sem ter consciência dos seus atos. Por outro lado, seu intelecto estava sendo enriquecido, despertado e desafiado diante desses novos horizontes. Seu coração se enchia de conceitos que seriam depositados em nossos ouvidos com o passar do tempo. É pena que nossa capacidade intelectual não estivesse à altura, como ainda não está, para entender cada conceito emitido, nessa linguagem de uma alma racional em desenvolvimento.

Faltavam apenas sete dias para 20 de janeiro de 2020, quando a heroína completaria o primeiro ano de vida. As piruetas variavam naquele palco improvisado entre sofás, com a plateia superinteressada e atenta aos mínimos detalhes de suas idas e vindas. A velocidade de seu engatinhar era algo encantador, admirável. Parecia feita de borracha. Essa cena familiar já nos empolgara cerca de seis anos atrás, quando sua irmã Beatriz vivenciara momentos semelhantes, como foco das atenções. Agora, no entanto, a irmãzinha maior já faz parte da assistência a observar os volteios graciosos e se preparar para a surpresa que está eclodindo. Incentivada pela torcida, Bianca se servia do apoio do sofá para dar demonstração de sua capacidade de ficar em pé e circular agarrada às bordas com desenvoltura. Quanto maior a ovação, mais animada ficava e mais velocidade imprimia aos pequenos movimentos com suas perninhas encantadoras.

Nem passava pela sua cabeça que vestira uma bela e antiga camisa colorida da Jubaíba, quando era mais nova, e que fora fotografada deitada no tatame vermelho de Papai Petrusk, lá na distante Serra Talhada, que fica a 406 km de Recife. De igual modo, jamais imaginaria que uma das manias do seu Avô é preservar coisas antigas que têm valor histórico, prática que conserva desde sua adolescência. Sendo assim, ficava mais que evidente que ele jamais jogaria uma camisa dessas no lixo, pois sem esse e outros acessórios de fatos passados não existiria nem presente e nem futuro.         

De repente, tive uma ideia em meio àquela algazarra. Coloquei-a em pé a uma distância de poucos passos e lancei o desafio: “Vamos andar, Bianca?” Ela fez que não me ouviu e, quando a soltei, logo se sentou. Pensei com meus botões: “Vá ver que não entendeu”. Recomecei tudo do começo, e de novo a coloquei em pé a minha frente. Olhando nos olhinhos dela, desafiei: “Vamos andar?” Ela olhou para um lado, olhou para o outro, só com a intenção de medir o grau de observação e paciência do Vovô ansioso e, sem olhar nos meus olhos, fez menção de avançar, mas esbarrou diante do empecilho dos aplausos. Nem um milímetro de passo saiu daquelas perninhas lindas. Quanto maior o incentivo, mais a garota fazia charme. De repente, ainda com olhar ligeiramente voltado para a lateral esquerda, como quem não quer nada ao tempo em que está querendo tudo, conseguiu a proeza de um primeiro e titubeante passo. Bastou isso para os aplausos irromperem como se estivéssemos em jogo de futebol da Copa do Mundo. A pequenina nem se preocupou, nem esmoreceu, mas demonstrou soberania de vontade, e deu mais um passo, depois outro, até que chegou a inacreditáveis seis passos. Aí o entusiasmo se misturou a uma realização coletiva e explosão de alegria quase incontida. Ela desfrutou e aprovou esses momentos inesquecíveis com seu lindo sorriso infantil. Foi uma cena extraordinária.

Continuei no encalço dela nos dias seguintes, contando cada passo a mais. A progressão foi admirável. Diante da nova descoberta, Bianca às vezes se dava ao luxo de dar passos cuidadosos ou então de engatinhar rapidamente. Foi uma surpresa quando, apenas nove dias depois, conseguiu dar mais de sessenta passos. Daí em diante, nem com recursos eletrônicos seria possível medir o desempenho da pequena jubaibana. 

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FOTOS


01.09.2020 – Beatriz faz a "mágica" de manter a bolinha no ar, enquanto Bianca apenas segura com as mãos. Ninguém matou a charada de como a criatividade da garota conseguiu tal proeza. O desafio fica para as pessoas que tiverem acesso a esse texto. 


04.09.2020 – Bianca preparou o bolo e depois tomou conta dos restos vitais.


19.01.2020 – Vovô Vavu cercado das três jóias preciosas. Beatriz, hoje com 6 anos e dez meses, foi quem primeiro interpretou o Vovô que lhe ensinávamos como Vavu. Assim foi o conceito produzido pelo seu coração infantil e colocado em nossos ouvidos. Já Nicolas, hoje com 3 anos e dois meses, que completou nesse 4 de setembro, interpretou Vovô como Vovô. Bianca, por sua vez, resolveu seguir os passos da irmã, mas incentivada por mim em minha última estada em Serra Talhada, de 08.08 a 01.09.