A JUBAÍBA PEQUENINA
ℛenivaldo
ℛufino
O fim da tarde da segunda-feira 13 de janeiro de 2020 foi um momento histórico
e agradável, com grande farra na sala do nosso apartamento em Recife. Bianca
era a estrela da vez e atraía olhares e atenção. Só faltava o tapete vermelho. Exibia
suas proezas com movimentos ágeis e incessantes. Palmas saúdam mais uma nova
façanha da pequerrucha assim num abrir e fechar de olhos. Risonha como é, batia
palmas, soltava gritos e gargalhadas, mesmo sem ter consciência dos seus atos.
Por outro lado, seu intelecto estava sendo enriquecido, despertado e desafiado diante
desses novos horizontes. Seu coração se
enchia de conceitos que seriam depositados em nossos ouvidos com o passar do
tempo. É pena que nossa capacidade intelectual não estivesse à altura, como
ainda não está, para entender cada conceito emitido, nessa linguagem de uma alma
racional em desenvolvimento.
Faltavam
apenas sete dias para 20 de janeiro de 2020, quando a heroína completaria o primeiro ano de vida. As piruetas
variavam naquele palco improvisado entre sofás, com a plateia superinteressada
e atenta aos mínimos detalhes de suas idas e vindas. A velocidade de seu
engatinhar era algo encantador, admirável. Parecia feita de borracha. Essa cena
familiar já nos empolgara cerca de seis anos atrás, quando sua irmã Beatriz vivenciara
momentos semelhantes, como foco das atenções. Agora, no entanto, a irmãzinha
maior já faz parte da assistência a observar os volteios graciosos e se preparar
para a surpresa que está eclodindo. Incentivada pela torcida, Bianca se servia
do apoio do sofá para dar demonstração de sua capacidade de ficar em pé e
circular agarrada às bordas com desenvoltura. Quanto maior a ovação, mais animada
ficava e mais velocidade imprimia aos pequenos movimentos com suas perninhas
encantadoras.
Nem
passava pela sua cabeça que vestira uma bela e antiga camisa colorida da
Jubaíba, quando era mais nova, e que fora fotografada deitada no tatame
vermelho de Papai Petrusk, lá na distante Serra Talhada, que fica a 406 km de
Recife. De igual modo, jamais imaginaria que uma das manias do seu Avô é
preservar coisas antigas que têm valor histórico, prática que conserva desde
sua adolescência. Sendo assim, ficava mais que evidente que ele jamais jogaria
uma camisa dessas no lixo, pois sem esse e outros acessórios de fatos passados não
existiria nem presente e nem futuro.
De
repente, tive uma ideia em meio àquela algazarra. Coloquei-a em pé a uma
distância de poucos passos e lancei o desafio: “Vamos andar, Bianca?” Ela fez
que não me ouviu e, quando a soltei, logo se sentou. Pensei com meus botões:
“Vá ver que não entendeu”. Recomecei tudo do começo, e de novo a coloquei em pé
a minha frente. Olhando nos olhinhos dela, desafiei: “Vamos andar?” Ela olhou
para um lado, olhou para o outro, só com a intenção de medir o grau de observação
e paciência do Vovô ansioso e, sem olhar nos meus olhos, fez menção de avançar,
mas esbarrou diante do empecilho dos aplausos. Nem um milímetro de passo saiu
daquelas perninhas lindas. Quanto maior o incentivo, mais a garota fazia charme.
De repente, ainda com olhar ligeiramente voltado para a lateral esquerda, como
quem não quer nada ao tempo em que está querendo tudo, conseguiu a proeza de um
primeiro e titubeante passo. Bastou isso para os aplausos irromperem como se
estivéssemos em jogo de futebol da Copa do Mundo. A pequenina nem se preocupou,
nem esmoreceu, mas demonstrou soberania de vontade, e deu mais um passo, depois
outro, até que chegou a inacreditáveis seis passos. Aí o entusiasmo se misturou
a uma realização coletiva e explosão de alegria quase incontida. Ela desfrutou
e aprovou esses momentos inesquecíveis com seu lindo sorriso infantil. Foi uma
cena extraordinária.
Continuei
no encalço dela nos dias seguintes, contando cada passo a mais. A progressão
foi admirável. Diante da nova descoberta, Bianca às vezes se dava ao luxo de
dar passos cuidadosos ou então de engatinhar rapidamente. Foi uma surpresa
quando, apenas nove dias depois, conseguiu dar mais de sessenta passos. Daí em
diante, nem com recursos eletrônicos seria possível medir o desempenho da
pequena jubaibana.
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