quarta-feira, 23 de maio de 2018

SABEDORIA INFANTIL

Thales e sua expressão de sabedoria própria dos Deuses imortais
Se Deus é criança, pois jamais mente, a criança é Deus, pois é dotada de sabedoria divina. Sabedoria não no sentido de filosofia, pois filosofia é uma coisa e sabedoria é outra coisa. Sabedoria é própria dos Deuses, e filosofia é própria do homem. A etimologia da palavra filosofia já diz tudo: amor à sabedoria. Quer dizer, a filosofia tem pretensões bem modestas. E não poderia ser diferente, pois as pretensões da filosofia são pretensões humanas e tudo que é humano é modesto.

Tenho ousado me aproximar do pensamento de Agostinho de Hipona (354-430, 75), desde 1997, durante o bacharelado e licenciatura em filosofia. Ao continuar os estudos, aprendi também a amar seu pensamento, que continua sendo, até os dias atuais, estudado com  seriedade na academia e respeitado fora dela. Considerado o filósofo da linguagem e do verbo interior, aprendi a observar as crianças graças aos seus textos. Essa prática tornou-se corriqueira e deleitosa, sobretudo após o nascimento das minhas duas netas e do meu neto, pois tentei seguir a orientação do filósofo, conforme Confissões I, vi, 8, onde ele afirma: “Assim são as crianças, como depois pude observar. Sem saber, elas me informaram mais daquilo que eu tinha sido, do que o saber dos meus educadores”. 
Impressionou-me, ainda, o fato de Agostinho abordar a linguagem gestual na pequena infância, que vai até aos sete anos, onde a criança exprime os sentimentos do coração, através de gemidos, gritos diversos e gestos vários, nesse primeiro ato volitivo de fala antes da fala. Outro destaque é a relação existencial do ser na tenra idade da segunda infância com o importante conceito filosófico de verdade. Eis o que o diz o filósofo no mesmo livro, capítulo vinte, parágrafo trinta e um: “...e justamente nos meus pequenos pensamentos sobre pequenas coisas, deleitava-me com a verdade”. Encontramos, ainda, em Confissões XI, xxiii, 29, o fechamento da ideia que valoriza a criança que era desvalorizada na época, e que dá ênfase ao que parece pequeno e insignificante. Assim diz o filósofo: “Ó Deus, concede aos homens a possibilidade de observarem nas coisas pequenas as noções comuns às pequenas e às grandes coisas”.
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A ideia completa sobre este assunto será desenvolvida em próxima publicação, quando será debatido o tema: As falas das minhas netas e do meu neto e a noção de linguagem em Agostinho de Hipona.
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Vovô ao lado das Três Preciosidades: Nicolas, Bianca e Beatriz.