AVENTURAS NO CARNAVAL
Monólogos de Nicolas (primeira
parte)
ℛenivaldo ℛufino
A título de introdução
Hoje é dia de celebração. Meu neto Nicolas completa 5 anos.
Daí o atraso dessa publicação, que deveria ter saído ontem, primeiro domingo do
mês. A segunda celebração, por coincidência, é que Gina Lollobrigida completa
95 anos de idade hoje. E jamais esqueceria de homenagear a musa que começou a
me inspirar quando eu tinha apenas 12 anos. Por conta disso é que as
publicações sobre a Primeira Igreja Batista de Beberibe só voltarão quando
setembro vier, uma vez que esses monólogos ocuparão os meses de julho e agosto.
A viagem encantadora ao mundo dos antepassados, que resultou nessas aventuras no
carnaval, começou em Campina Grande e se estendeu a Monteiro, Zabelê e Ringideira.
Prestemos atenção a essa fala interior de Nicolas, que ocorreu em fevereiro de
2020.
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Assim como eu, meu Avô também sabe ler o pensamento das
pessoas. Ele sabe o que as pessoas
pensam, pois conseguiu captar pensamentos meus desde que eu era apenas uma
sementinha no ventre de Mamãe. Agora está acontecendo isso mais uma vez. E o
que ele fez diante dessa maravilha? Começou a escrever. Começou a
colocar no papel as coisas que meu pensamento pensa e depois fala ao meu
pensamento. Só assim, aquilo que é puramente interior brota para a
exterioridade através da escrita.
Esse meu Avô é
fogo! Diz que ler o pensamento pensando o pensamento é mania de quem estuda
filosofia. Só sendo! Muita gente chama isso de loucura, mas ele não é
nem um pouquinho louco! E diz, ainda, que todas essas minhas falas comigo mesmo
são parte da beleza e do encanto da genealogia que ele já vem montando há mais
de vinte anos. É muito tempo!
Basta destacar um
desses momentos misteriosos dos nossos antepassados, ou do passado do nosso
pensamento, como é o caso presente, e a gente tem uma história interessante
para contar. E isso é o que todo mundo faz, pois falar ou escrever sobre
o presente é difícil, uma vez que o presente se transforma em passado num piscar
de olhos. Uma sílaba só aparece,
quando sua vizinha já mergulhou no passado. E quando a palavra fica completa e
acaba de ser pronunciada, já mergulha também nas águas do passado. Aprendi tudo isso lendo o pensamento do meu Avô quando tenta
pensar o pensamento do seu filósofo preferido, Agostinho de Hipona (354-430, 75),
mas aí já com a ajuda dos inúmeros “opúsculos” do filho de Tagaste.
Quando comecei a planejar e pensar como arrumaria esse meu
pensamento, logo me veio uma pergunta à mente: e que título darei a essa minha
fala interior? Decidi rápido, por causa da época: aventuras no carnaval. É
claro que eu só poderia pensar assim mesmo, pois essa aventura começou no
sábado de carnaval, 22 de fevereiro de 2020, e se estendeu até à segunda-feira
24. Sendo assim, vamos por parte.
CAMPINA GRANDE
Saímos de Recife
após o café da manhã do sábado, mas ficamos emperrados no trânsito com aquele
congestionamento gigantesco dos carros que se afunilavam para passar por Abreu
e Lima e Igarassu. Mesmo que eu dormisse em alguns momentos, por causa da
climatização ambiental dentro do carro, conseguia perceber tudo que se passava
ao redor. Após aquele engarrafamento, já percebi que a gente ia se atrasar para
chegar à casa de Tivó Luza, em Campina Grande. Ela é irmã caçula do meu Avô.
Ele quis porque quis manter segredo e chegar lá de surpresa como já fez de
outras vezes, apesar de saber que ela também tem essa mania de ler as coisas do
espírito. Desde que Papai postou nossa primeira foto na viagem, ela já começou
a ficar de orelha em pé. Sábio como é, ele logo despistou a curiosidade dela,
dizendo que estávamos indo a Serra Talhada, onde residem titia Tetel, titio
Tetu e minhas priminhas Bibi e Bianquinha. Bastou esse golpe para ela cair por
terra. Só então continuamos a viagem em paz, mesmo que titia Tetel também tenha
ficado confusa pensando que a gente ia pra lá.
Quando entramos em
Campina Grande, a nossa barriga já roncava de fome por causa do horário. Mesmo
assim, o meu Avô resolveu passar por uma padaria que vende o melhor pão doce e
pão crioulo do mundo, apesar de ele mesmo não comer desses manjares. Quando
desviou o olhar para sair no carro, deu um grito que foi repetido pelo meu Pai:
“Geraldo!” E lá foi ele estacionar em frente ao prédio onde fica o salão do seu
barbeiro. Foi aquela alegria conhecer Geraldo e Gilson, e tirar foto com o
barbeiro com quem Vovô faz cabelo e barba há tantos anos. A fome não nos
deixava prosseguir. Paramos em uma churrascaria e comemos alguma coisa.
Seguimos depois
até à casa de Tivó Luza. Fomos recebidos pelos seus netos Natan e Vinícius, e
também por ela. Depois apareceu Miriam, Cristiane e Guilherme. Foi uma mistura
de surpresa e alegria sem fim. E aconteceu tudo nos rápidos momentos que
estivemos ali. A conversa estava animada, com muitos sorrisos e brincadeiras.
De repente, os donos da música tomaram conta do espaço, tanto os que tocavam
seus violões quanto os que cantavam. Eu brincava deitado no chão, até que Cris
se entrosou comigo. Aí a festa virou festa pra mim. Quando foi no melhor
momento, Vovô lembrou que estava na hora de continuar viagem. O protesto foi
geral. Tentaram nos segurar, com muito amor e atenção, mas escorregamos feito
peixe ensaboado e continuamos viagem, com mais de trinta minutos de atraso.
MONTEIRO
Chegamos a
Monteiro com a noite dando o ar de sua graça. Vovô parou apenas uma vez, para
Papai e Mamãe comprarem água, mas eu não gostei de eles irem e eu ficar ali
dentro do carro. Em seguida, fomos direto para a Pousada dos Poemas, onde os
aposentos já estavam prontos para nos receber. Eu fiquei com Mamãe e Papai no
apartamento 12 e Vovô ficou no 14. Carinhosa e cuidadosa como é, Mamãe foi
preparar uma papinha de aveia para nós, regada a leite de vaca. Em seguida nos
recolhemos para o merecido repouso.
Eu fiquei de
antenas ligadas, pois notei que meu Avô tinha fechado a porta e não tinha ido
dormir. Ficou passando mensagens e brincando com seu primo Eliedson e depois
com sua prima Nosa, ela da Ringideira e ele de Monteiro. Quando fui me despedir
dele, nos braços de meu Pai, notei o barulho de conversa lá dentro. Ao abrir a
porta, dei de cara com Cida, prima legítima dele, acompanhada do filho
Eliedson, que tiveram a atenção de visitar Vovô e se alegraram em me conhecer.
Pena que tive de sair logo com Papai, pois era hora de me recolher.
Continuei atento e
notei que meu Avô ligou para Nosa e tentou explicar a razão de ter vindo assim
de surpresa. Quanto mais ele explicava, menos colava. Ainda mais porque ele
passara mensagem perguntando onde ela iria brincar o Carnaval e ela, também
brincando, disse que em Recife. Ele ainda continuou a brincadeira, procurando
saber se ela iria para as prévias. Depois de tanta brincadeira, ele informou
que estava pulando Carnaval na Pousada dos Poemas. Coitada de Nosa, que só não
ficou mais decepcionada porque ele se justificou até que a bateria do celular
zerou.
CONCLUSÃO NO MÊS DE AGOSTO.
GALERIA DE FOTOS
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