domingo, 6 de fevereiro de 2022

O NOTÁVEL QUARTO ACAMPAMENTO DA JUBAÍBA

 

FOTO 1 [i] ‒ 1976: Acampamento Batista de Lagoa Seca, PB, em momento do notável encontro, no qual aparece o casal Paulo e Elma, minha cunhada Fátima, e Joran em meu colo.


1972–2022: Cinquentenário de organização da Jubaíba

1922–2022: Centenário de organização da Primeira Igreja Batista de Campina Grande

 

O NOTÁVEL [i] QUARTO ACAMPAMENTO DA JUBAÍBA[ ii]

enivaldo ufino

Meu filho Joran tinha apenas dez meses de idade quando foi realizado o IV Acampamento da Jubaíba, de 28/02 a 02/03/1976. Eu já estava estudando há um ano no Seminário Batista de Recife. Fui convidado a escrever um artigo sobre o notável [iii] encontro, o que fiz com muito prazer.

Se o primeiro acampamento quase leva a Jubaíba à falência, por conta do presidente de honra e da revolta da juventude, o quarto acampamento foi o contrário. Esses encontros eram planejados com muita antecedência, reuniam jovens não apenas do meio batista, mas também convidados de outras igrejas, inclusive pessoas não pertencentes aos meios evangélicos. Havia momentos de congraçamento, lazer, esporte, meditação e também evangelização. Quer dizer, as pessoas não evangélicas eram desafiadas a aceitarem a mensagem cristã veiculada pelos pregadores presentes a esses momentos agradáveis, e não só por eles, mas também pela própria juventude. Quando uma dessas pessoas se convertia ‒ como se costuma dizer no meio batista ‒, era uma verdadeira alegria e uma espécie de troféu que validava ainda mais o esforço despendido para a realização do evento. Foi isso que ocorreu no notável quarto acampamento da Jubaíba.

As acomodações continuavam insuficientes para receber tanta gente. O Acampamento Batista de Lagoa Seca formigava, conforme é registrado no artigo publicado em 11/04/1976: “Parti de Recife no sábado, juntamente com o preletor oficial e uma pequena caravana pernambucana. Chegamos à tardinha e encontramos o local fervilhando de jovens”. Era um verdadeiro espetáculo de juventude, entusiasmo, música e alegria. Era o carnaval mais animado do mundo, até mesmo para dois carnavalescos recifenses ali presentes.

O tema do encontro ‒ Sê tu uma bênção, Gênesis xii 2 ‒ foi idealizado pelo então vice-presidente da organização, Joseli Bastos, única presença da Primeira Igreja Batista de João Pessoa. Se não fora a oportuna providência de a maior igreja da Paraíba realizar seu próprio encontro durante o carnaval, seria impossível reunir tanta gente naquele local que continha apenas 160 vagas.

O dinâmico presidente da Jubaíba era o jovem Abraão Barbosa da Silva. Já cumprira o mandato de um ano, em 1975, como presidente de transição, e agora estava na primeira metade do seu segundo mandato, para o biênio 1976/1977. Era um dos mais jovens da diretoria anterior, onde ocupou as funções de Tesoureiro e Presidente. Sobre ele é dito, no referido artigo, inclusive quanto ao aspecto agora citado: “Nos (acampamentos) anteriores esteve como um dos braços fortes da Diretoria. Apesar de ser bastante jovem [...] demonstrou um senso acentuado de prudência na liderança dos trabalhos, (com) bastante controle emocional...”. E, como não poderia deixar de ser, diante da necessidade física que a todos angustiava desde o primeiro encontro da juventude estadual naquele local, “...bradou em alto e bom som na abertura oficial do Acampamento, diante do Secretário Executivo do Campo ‒ missionário Edward Bruce Trott: No próximo encontro queremos acomodação para 500 jovens”.

Os pastores e preletores eram essenciais ao bom resultado de um projeto de tal envergadura. E o quarto acampamento estava muito bem servido nesse particular, com a meia dezena de nomes que responderam ao apelo da Diretoria: “...cinco pastores ficaram encarregados de traduzir o desafio (do tema) e de apresentá-lo aos jovens em forma de palestras, estudos escritos e meditações”. Foram eles: Baruch da Silva Bento, da Igreja Batista da Liberdade, em Campina Grande, ficou responsável pelas meditações matutinas, às 06h00, no “Monte das Bênçãos ou Jardim de Oração”, que fica na lateral esquerda do prédio principal. Após o café, “...os acampantes se dividiam em pequenos grupos, com dirigentes, ocasião em que meditavam em estudos preparados pelo pastor José Britto Barros, da Primeira Igreja Batista de Campina Grande, acerca dos diversos aspectos da chamada divina, das promessas e garantias eternas, do sublime privilégio e dos maravilhosos resultados”. Às 09h00, “...os grupos se subdividiam e cada um ficava tranquilamente a sós com Deus e com pequenos, substanciosos e tocantes estudos da autoria do pastor Tomaz Munguba (da Primeira Igreja Batista de João Pessoa)”, sobre diversos aspectos de como ser uma bênção diante do mundo. Às 09h30, o pastor Fernando Albernaz, ainda estudante de teologia no Seminário de Recife e também líder da Primeira Igreja Batista de Boa Viagem, na mesma cidade, falava a todos sobre o valor dos dons espirituais. E, finalmente, à noite, mensagens com o pastor Natanael Cruz, da Igreja Evangélica Batista de João Pessoa, que era também Conselheiro da Jubaíba.

Só quem estava envolvido entendia a complexidade de um momento desses. Eram muitos meses de planejamento. Era muita gente envolvida. Era muita energia e boa vontade juntando as forças para alavancarem essas vidas. De fato, era tudo muito complexo, porém o extremamente difícil era convencer alguém amante do carnaval de Olinda e Recife a abdicar da folia de Momo e se fazer presente a um encontro desses, em local até certo ponto inóspito, com acomodações precárias e em uma área rural distante da cidade, pois Campina Grande fica a 233km de Recife, e Lagoa Seca a quase 9km da cidade Rainha da Borborema. Mas nada que uma boa conversa não resolva. E foi isso que aconteceu, para surpresa e alegria de todas as pessoas ali presentes.

O Jornal Batista publicou detalhadamente o que aconteceu nesse particular da presença do casal recifense no notável quarto acampamento. O autor conversava certo dia com o casal sobre a possibilidade de irem ao encontro da Jubaíba em Lagoa Seca. “Ela, mais apaixonada pelo carnaval do que ele, disse-me: ‒ Sabe, Renivaldo, tenho medo de sentir saudades do carnaval quando estiver em pleno acampamento e querer voltar. Argumentei: ‒ Não se preocupe porque há transporte para vocês voltarem quando quiserem. Acontece, todavia, que todos que participam dos nossos acampamentos não querem perder mais nenhum. E isto irá acontecer com vocês”.

A luta foi titânica, pois no domingo de manhã o casal amanheceu meio acabrunhado. É que a saudade do carnaval havia aumentado. Entretanto, eles “...foram contagiados pela alegria espiritual e incessante de nossa juventude [...] e convencidos que deveriam ficar. Na terça-feira de manhã, após o último e abençoadíssimo estudo com o pastor Fernando Albernaz, o jovem casal entregou a última chave que os prendia... Verteram copiosas lágrimas de alegria... Houve consagração de vidas e todos foram tocados pela oração ...do pastor Baruch. Uma outra jovem, que se havia convertido anteriormente, disse-me: ‒ Senti um real arrependimento de todos os meus pecados. Parece que eles ficaram no banco quando fui à frente. Fiz o propósito de modificar a minha vida e tive uma sensação maravilhosa de perdão, de libertação. Nunca antes havia ouvido testemunho tão eloquente de alguém ‒ a mensagem bíblica em sua essência...”.

O acampamento termina de maneira vitoriosa, pois “os acampantes estavam querendo, agora, não mais espaço, porém mais dias de Acampamento”. O encontro foi encerrado com todos de joelhos. Como disse Stella Câmara Dubois (O Batista Baiano nº 1, 1976) sobre o Acampamento em Jaguaquara, “o resultado deste acampamento foram joelhos dobrados”. E mais, digo eu: lágrimas derramadas, vidas modificadas, esperanças renovadas e ideais reafirmados. A essa altura, o articulista afirma: “Para mim foi um grande privilégio participar de encontro tão significativo e receber incumbência tão honrosa”. E, encerrando o texto: “Sê tu uma bênção, Jubaíba: no cumprimento da tarefa para a qual foste chamada, na preservação e desenvolvimento dos ensinamentos ouvidos, na tua vivência diária junto aos teus familiares, colegas, amigos, irmãos, com um santo proceder no falar, no vestir, no andar e em toda tua maneira de viver”.

FOTOS
FOTO 2 ‒ O Jornal Batista de 11/04/1976. No final da página, o destaque com a chamada para o artigo sobre o quarto acampamento da Jubaíba. 
FOTO 3 ‒ O Jornal Batista de 11/04/1976. Destaque do destaque dado na primeira página do jornal.
FOTO 4 ‒ O Jornal Batista de 11/04/1976. Artigo sobre o quarto acampamento da Jubaíba, na última página.
FOTO 5 ‒ O Jornal Batista de 11/04/1976. Conclusão do artigo sobre o quarto acampamento da Jubaíba, à página 8. 



NOTAS

[i] A expressão notável aparece em itálico pelo fato de o jornal ter feito um destaque sobre o acampamento, na primeira página, utilizando a palavra: “E na última página o relato de um notável RETIRO DE MOCIDADE”.

[ii] Este é o 8º e último artigo a ser publicado sobre os quatro primeiros anos de funcionamento da Jubaíba, a saber: 1º) 01/06/2020: A Jubaíba nasceu entre lágrimas; 2º) 10/08/2020: A Jubaíba vestida de cores e símbolos; 3º) 06/12/2020: A Jubaíba renasce das cinzas; 4º) 04/04/2021: O poder da Jubaíba e o simbólico número doze; 5º) 06/06/2021: A Jubaíba nos congressos e convenções; 6º) 01/08/2021: A Jubaíba e o presidente de transição; 7º) 02/01/2022: A Jubaíba nos seminários; 8º) 06/02/2022: O notável quarto acampamento da Jubaíba.

[iii] Conferir RUFINO, J. R. “Sê tu uma bênção, Jubaíba”. in: O Jornal Batista. Rio de Janeiro: JUERP, 11/04/1976. Última página. 


NOTA DA PRIMEIRA FOTO

[i] Esta é a única foto que restou do quarto acampamento. Se alguém tiver alguma outra, favor encaminhar para o e-mail: renivaldorufino@hotmail.com