FOTO 1 [i] ‒ 1976: Acampamento Batista
de Lagoa Seca, PB, em momento do notável
encontro, no qual aparece o casal Paulo e Elma, minha cunhada Fátima, e Joran
em meu colo.
1972–2022: Cinquentenário de
organização da Jubaíba
1922–2022: Centenário de organização
da Primeira Igreja Batista de Campina Grande
O NOTÁVEL [i] QUARTO ACAMPAMENTO DA JUBAÍBA[ ii]
ℛenivaldo
ℛufino
Meu filho Joran tinha apenas dez
meses de idade quando foi realizado o IV Acampamento da Jubaíba, de 28/02 a 02/03/1976.
Eu já estava estudando há um ano no Seminário Batista de Recife. Fui convidado a escrever um
artigo sobre o notável [iii] encontro, o que fiz com muito
prazer.
Se o primeiro acampamento quase
leva a Jubaíba à falência, por conta do presidente de honra e da revolta da
juventude, o quarto acampamento foi o contrário. Esses encontros eram
planejados com muita antecedência, reuniam jovens não apenas do meio batista, mas
também convidados de outras igrejas, inclusive pessoas não pertencentes aos
meios evangélicos. Havia momentos de congraçamento, lazer, esporte, meditação e
também evangelização. Quer dizer, as pessoas não evangélicas eram desafiadas a aceitarem a
mensagem cristã veiculada pelos pregadores presentes a esses momentos
agradáveis, e não só por eles, mas também pela própria juventude. Quando uma dessas pessoas se convertia ‒ como se costuma dizer no meio batista ‒, era uma
verdadeira alegria e uma espécie de troféu que validava ainda mais o esforço
despendido para a realização do evento. Foi isso que ocorreu no notável quarto acampamento da Jubaíba.
As acomodações continuavam
insuficientes para receber tanta gente. O Acampamento Batista de Lagoa Seca formigava, conforme é registrado no
artigo publicado em 11/04/1976: “Parti de Recife no sábado, juntamente com o
preletor oficial e uma pequena caravana pernambucana. Chegamos à tardinha e
encontramos o local fervilhando de jovens”. Era um verdadeiro espetáculo de
juventude, entusiasmo, música e alegria. Era o carnaval mais animado do mundo, até mesmo para dois carnavalescos
recifenses ali presentes.
O tema do encontro ‒ Sê tu uma bênção, Gênesis xii 2 ‒ foi
idealizado pelo então vice-presidente da organização, Joseli Bastos, única
presença da Primeira Igreja Batista de João Pessoa. Se não fora a oportuna
providência de a maior igreja da Paraíba realizar seu próprio encontro durante
o carnaval, seria impossível reunir tanta gente naquele local que continha
apenas 160 vagas.
O dinâmico presidente da Jubaíba
era o jovem Abraão Barbosa da Silva. Já cumprira o mandato de um ano, em 1975,
como presidente de transição, e agora
estava na primeira metade do seu segundo mandato, para o biênio 1976/1977. Era
um dos mais jovens da diretoria anterior, onde ocupou as funções de Tesoureiro e Presidente. Sobre ele é dito, no referido artigo,
inclusive quanto ao aspecto agora citado: “Nos (acampamentos) anteriores esteve
como um dos braços fortes da Diretoria. Apesar de ser bastante jovem [...]
demonstrou um senso acentuado de prudência na liderança dos trabalhos, (com) bastante
controle emocional...”. E, como não poderia deixar de ser, diante da
necessidade física que a todos angustiava desde o primeiro encontro da
juventude estadual naquele local, “...bradou em alto e bom som na abertura
oficial do Acampamento, diante do Secretário Executivo do Campo ‒ missionário
Edward Bruce Trott: No próximo encontro queremos acomodação para 500 jovens”.
Os pastores e preletores eram
essenciais ao bom resultado de um projeto de tal envergadura. E o quarto
acampamento estava muito bem servido nesse particular, com a meia dezena de
nomes que responderam ao apelo da Diretoria: “...cinco pastores ficaram
encarregados de traduzir o desafio (do tema) e de apresentá-lo aos jovens em
forma de palestras, estudos escritos e meditações”. Foram eles: Baruch da Silva
Bento, da Igreja Batista da Liberdade, em Campina Grande, ficou responsável
pelas meditações matutinas, às 06h00, no “Monte das Bênçãos ou Jardim de
Oração”, que fica na lateral esquerda do prédio principal. Após o café, “...os
acampantes se dividiam em pequenos grupos, com dirigentes, ocasião em que
meditavam em estudos preparados pelo pastor José Britto Barros, da Primeira
Igreja Batista de Campina Grande, acerca dos diversos aspectos da chamada
divina, das promessas e garantias eternas, do sublime privilégio e dos maravilhosos
resultados”. Às 09h00, “...os grupos se subdividiam e cada um ficava
tranquilamente a sós com Deus e com
pequenos, substanciosos e tocantes estudos da autoria do pastor Tomaz Munguba (da
Primeira Igreja Batista de João Pessoa)”, sobre diversos aspectos de como ser
uma bênção diante do mundo. Às 09h30, o pastor Fernando Albernaz, ainda
estudante de teologia no Seminário de Recife e também líder da Primeira Igreja
Batista de Boa Viagem, na mesma cidade, falava a todos sobre o valor dos dons
espirituais. E, finalmente, à noite, mensagens com o pastor Natanael Cruz, da
Igreja Evangélica Batista de João Pessoa, que era também Conselheiro da
Jubaíba.
Só quem estava envolvido entendia a
complexidade de um momento desses. Eram muitos meses de planejamento. Era muita
gente envolvida. Era muita energia e boa vontade juntando as forças para
alavancarem essas vidas. De fato, era tudo muito complexo, porém o extremamente
difícil era convencer alguém amante do carnaval de Olinda e Recife a abdicar da
folia de Momo e se fazer presente a um encontro desses, em local até certo
ponto inóspito, com acomodações precárias e em uma área rural distante da
cidade, pois Campina Grande fica a 233km de Recife, e Lagoa Seca a quase 9km da
cidade Rainha da Borborema. Mas nada que uma boa conversa não resolva. E foi isso
que aconteceu, para surpresa e alegria de todas as pessoas ali presentes.
O Jornal Batista publicou
detalhadamente o que aconteceu nesse particular da presença do casal recifense
no notável quarto acampamento. O
autor conversava certo dia com o casal sobre a possibilidade de irem ao
encontro da Jubaíba em Lagoa Seca. “Ela, mais apaixonada pelo carnaval do que
ele, disse-me: ‒ Sabe, Renivaldo, tenho medo de sentir saudades do carnaval
quando estiver em pleno acampamento e querer
voltar. Argumentei: ‒ Não se preocupe porque há transporte para vocês voltarem
quando quiserem. Acontece, todavia, que todos que participam dos nossos
acampamentos não querem perder mais nenhum. E isto irá acontecer com vocês”.
A luta foi titânica, pois no
domingo de manhã o casal amanheceu meio acabrunhado. É que a saudade do carnaval havia
aumentado. Entretanto, eles “...foram
contagiados pela alegria espiritual e incessante de nossa juventude [...] e
convencidos que deveriam ficar. Na terça-feira de manhã, após o último e
abençoadíssimo estudo com o pastor Fernando Albernaz, o jovem casal entregou a
última chave que os prendia... Verteram copiosas lágrimas de alegria... Houve
consagração de vidas e todos foram tocados pela oração ...do pastor Baruch. Uma outra jovem, que se havia
convertido anteriormente, disse-me: ‒ Senti um real arrependimento de todos os
meus pecados. Parece que eles ficaram no banco quando fui à frente. Fiz o
propósito de modificar a minha vida e tive uma sensação maravilhosa de perdão,
de libertação. Nunca antes havia ouvido
testemunho tão eloquente de alguém ‒ a mensagem bíblica em sua essência...”.
O acampamento termina de maneira vitoriosa,
pois “os acampantes estavam querendo, agora, não mais espaço, porém mais dias
de Acampamento”. O encontro foi encerrado com todos de joelhos. Como disse Stella Câmara Dubois (O Batista Baiano nº 1,
1976) sobre o Acampamento em Jaguaquara, “o resultado deste acampamento foram
joelhos dobrados”. E mais, digo eu: lágrimas derramadas, vidas modificadas, esperanças
renovadas e ideais reafirmados. A essa altura,
o articulista afirma: “Para mim foi um grande privilégio participar de encontro
tão significativo e receber incumbência tão honrosa”. E, encerrando o texto:
“Sê tu uma bênção, Jubaíba: no cumprimento da tarefa para a qual foste chamada,
na preservação e desenvolvimento dos ensinamentos ouvidos, na tua vivência
diária junto aos teus familiares, colegas, amigos, irmãos, com um santo
proceder no falar, no vestir, no andar e em toda tua maneira de viver”.
[i] A
expressão notável aparece em itálico
pelo fato de o jornal ter feito um destaque sobre o acampamento, na primeira
página, utilizando a palavra: “E na última página o relato de um notável RETIRO
DE MOCIDADE”.
[ii]
Este é o 8º e último artigo a ser publicado sobre os quatro primeiros anos de
funcionamento da Jubaíba, a saber: 1º) 01/06/2020: A Jubaíba nasceu entre
lágrimas; 2º) 10/08/2020: A Jubaíba vestida de cores e símbolos; 3º)
06/12/2020: A Jubaíba renasce das cinzas; 4º) 04/04/2021: O poder da Jubaíba e
o simbólico número doze; 5º) 06/06/2021: A Jubaíba nos congressos e convenções;
6º) 01/08/2021: A Jubaíba e o presidente de transição; 7º) 02/01/2022: A Jubaíba
nos seminários; 8º) 06/02/2022: O notável
quarto acampamento da Jubaíba.
[iii]
Conferir RUFINO, J. R. “Sê tu uma bênção, Jubaíba”. in: O Jornal Batista. Rio de Janeiro: JUERP, 11/04/1976. Última
página.
[i] Esta é a
única foto que restou do quarto acampamento. Se alguém tiver alguma outra,
favor encaminhar para o e-mail: renivaldorufino@hotmail.com