domingo, 2 de janeiro de 2022

A JUBAÍBA NOS SEMINÁRIOS

 

FOTO 1 ‒ 1979 [i]: Da esquerda para a direita: Abraão, Renivaldo, Leandro, Nidoval [ii], João Félix, Loidimar [iii], Cosma, Janilene, Júnior e Vanda. Sete futuros pastores oriundos da Jubaíba, pois Júnior também ingressou na mesma causa.



1972–2022: Cinquentenário de organização da Jubaíba

1922–2022: Centenário de organização da Primeira Igreja Batista de Campina Grande

A JUBAÍBA NOS SEMINÁRIOS [i]

enivaldo ufino

A primeira metade de 1975 foi pura efervescência na vida da Juventude Batista da Paraíba. O que ocorreu foi tão sério quanto alguns outros momentos vividos pela organização desde sua conturbada gestação há apenas três anos. Parte da diretoria resolveu dar uma guinada na vida ao decidir sair de suas cidades, dos seus afazeres seculares e eclesiásticos, na busca de um novo desafio, de um novo destino. Ocupavam eles quatro cargos: presidência, vice-presidência, secretaria e diretoria de evangelismo. E toda essa avalanche ocorreu justamente num momento de grande desenvolvimento da organização e no meio do mandato, pois a diretoria fora eleita para o biênio 1974/1975. A saída dessas quatro pessoas geraria um grande desfalque que, por outro lado, a liderança resolveria com certa tranquilidade. O importante era que a Jubaíba não sofresse impacto no processo de continuidade. E assim aconteceu.

E o que ocorreu com esses jovens? No linguajar eclesiástico batista, eles se sentiram chamados para o ministério. Em outras palavras, deveriam largar tudo e se dirigirem a um seminário, para o devido preparo. Três deles escolheram o Seminário de Recife ‒ Renivaldo, Eliezer, Eli: presidente, vice-presidente e diretor de evangelismo ‒, e o quarto escolheu o Seminário do Rio de Janeiro ‒ Ademar, secretário.   

A ida ao Seminário era um momento muito mais complicado do que se possa imaginar. A decisão para fazer um curso superior de educação religiosa, música sacra ou teologia, terminava mexendo muito com a vida das pessoas envolvidas. Era até mais complexo do que se submeter a um vestibular e tentar ingressar na universidade, por conta de questões muito delicadas. A luta psicológica era intensa, a decisão a ser tomada geralmente passava por uma convicção de foro íntimo e sempre numa relação direta com a vontade da divindade. Alguns viviam essa experiência ainda muito jovens. Outros, nem tanto, como foi o caso do autor, que só chegou ao Seminário aos 28 anos de idade, já casado e com a esposa à espera do primeiro filho, que nasceu apenas um mês depois da chegada ao Seminário.

A experiência de chamada é diferente para cada um, envolvendo, inclusive, fortes emoções e mudanças estratégicas na própria vida. Mas há também alguns que não sentem tal chamada, mas apenas se convencem de que devem ir ao Seminário. O fato é que um terço da diretoria da Jubaíba abandonou a Paraíba para atender ao chamamento que entendia ser bem maior, conforme é dito em artigo anterior. Muitas coisas estavam em jogo numa hora dessas, quer em termos pessoais, quer em termos coletivos. E uma delas era justamente a convicção individual, que servia de base à tomada de decisão definitiva para assumir as novas mudanças. Alguns até se digladiavam consigo mesmos, numa luta feroz contra uma vontade às vezes relutante e até titubeante. O autor acompanhou de perto pelo menos três dessas lutas: a sua própria luta, a luta de Eliezer ‒ que foi o primeiro presidente da Jubaíba ‒, e a de Abraão ‒ que foi o terceiro presidente ‒, que só iria ao seminário alguns anos depois.

Era costume, na época, jovens da Jubaíba participarem de eventos fora da Paraíba. Certa ocasião foram convidados por Hélio Lourenço ‒ irmão carnal de Eliezer e pastor em Feira de Santana ‒, para um acampamento na Bahia. A luta que Eliezer travou ali foi tão intensa e decisiva, que o efeito se misturava às lágrimas de jovens que também torciam pela sua decisão. Abraão, por sua vez, passou por diversos testes antes do passo definitivo que o conduziria ao seminário e ao pastorado, inclusive em termos de cursos na universidade. Os três primeiros presidentes narram suas experiências em documentos entregues por ocasião do ingresso no Seminário, que foram resgatados agora, quarenta e dois e quarenta e seis anos depois, em pesquisa feita pelo autor para a composição deste texto [ii].

Um fato revelador e curioso ocorreu em 1973, quando a Jubaíba ainda não completara nem um ano de organização. O autor recebeu carta do então presidente da Jubaíba, Eliezer Lourenço, com data de 07 de março onde, a certa altura, escreve: “Ore por mim, eu estou disposto a atender à vontade de Deus em minha vida, e eu sinto que ele tem um ministério pra mim no seu reino, eu não sei qual é”. Aquilo mexeu muito com o então vice-presidente da Jubaíba. Mas o impacto foi cedendo pouco a pouco diante das correrias do dia a dia como dono de casa e futuro pai, e do envolvimento com o trabalho no banco, na igreja, na denominação e na própria Jubaíba [iii].

Mais de um ano depois da carta acima, em 25/03/1974, a Primeira Igreja Batista de Campina Grande começa a semana de oração pró Missões Mundiais. O alvo proposto era de Cr$ 1.000,00 (hum mil cruzeiros), o maior já decidido pela igreja até então. Naquela semana o autor começou a “sentir revoluções no seu interior”.

No final de semana ocorreria o clímax daquela forte experiência espiritual: “Não se sentia o mesmo durante o expediente no Banco. Parecia que estava fora de órbita”. Foi então que indagou, em oração: “Que queres de mim, Senhor?” Recebeu diversas mensagens por ocasião do seu aniversário no dia 29 de março. Pela sua ótica, todas as mensagens pareciam tocar no mesmo assunto com o qual estava envolvido. Porém, não ficou contente, e continuou com a mente conturbada, confusa e indecisa. À noite, depois de orar insistentemente, veio a convicção que entendeu como resposta divina, pois a voz interior lhe dizia: “Eu quero tua vida”. Chegou até a chorar, e o peso emocional foi amenizado.

No sábado à noite houve o Culto da Mocidade, com mensagem vocacional pelo pastor José Berlarmino do Monte, da Igreja Batista de Santa Rita, da qual fazia parte seu querido companheiro Eliezer. Foi um sermão inspirador. Naquele mesmo sábado à tarde, falou em uma reunião da mocidade sobre missões, dizendo que Deus queria muito mais que dinheiro, ele queria vidas. Foi uma mensagem para si mesmo. “Domingo lindo, de manhã ensolarada, na bela Campina Grande”. Após a dedicação das ofertas por cada classe, o alvo foi ultrapassado em mais de cem por cento. “Lá da frente, contempla os irmãos (ele era diretor da escola bíblica dominical). Contempla a... amada igreja. Faz apelo para que vidas se entreguem... Ninguém responde. Ninguém se movimenta”. Ocorre que o apelo era para si mesmo. “Com a voz embargada e sentindo grande emoção, começa a falar pausadamente (evitando chorar): Irmãos... esta semana... tive problemas com Deus. Eu... irei entregar minha vida para o serviço de Deus. Podem afirmar: Senhor, entregamos a ti nesta manhã esta oferta de dois mil cruzeiros e a vida do irmão Renivaldo”. Foi surpresa, alegria e choro naquele momento. Mas esse foi apenas um dos aspectos, porque depois teve de lutar consigo mesmo para decidir para que Seminário iria. Ainda pensou pedir demissão do banco e ir para o Seminário do Rio. Estava tão abalado emocionalmente, que nem cogitou que poderia pedir transferência, pois havia agência do Banco do Nordeste no Rio. Sua mãe foi sábia e não quis enfrentar o filho de frente, por isso resolveu apelar para que José Hilário, que era diretor do coral, tentasse convencê-lo de que aquele não era o melhor caminho. E ele o convenceu. Entretanto, ainda teve uma tremenda dificuldade para decidir se entraria no Seminário em 1975 ou no ano seguinte. Mas a convicção chegou tranquilamente numa manhã de domingo.

Muitas vidas foram inspiração e exemplo para tantas outras vidas, sobretudo para o que ocorreu naquele histórico ano de 1975. Foram marcantes nomes como os de Maria Betânia, Josoniel Fonseca, Tomaz Munguba, Billy Fallaw, Edward Trott, José Ednaldo Cavalcanti, José Britto Barros, o próprio José Belarmino, e outros. Quando indagado sobre o que destacaria do seu período como presidente da Jubaíba, Abrão Barbosa respondeu: “Um tempo de aprendizado de liderança, de comunhão, de conhecer irmãos em Cristo de outras cidades, de estar em Igrejas de várias regiões da Paraíba, além de participar de eventos de caráter regional e nacional. Foi também um tempo de estar sendo moldado para o exercício da missão que Deus tinha me chamado, o ministério pastoral”. Entretanto, bem antes dos “Vocacionados 75" [iv], Maria Betânia foi precursora, pois já ingressara no Seminário para fazer o bacharelado (1969-1973) e, depois, o mestrado em teologia (1974-1976). Conforme legenda em foto do álbum, seis foram para o Seminário de Recife, um para o Seminário do Rio, e uma moça para o então Seminário de Educadoras Cristãs, em Recife. Ao chegarem ao Seminário de Recife, encontraram mais um paraibano, Jairo. Sendo assim, essa primeira leva foi de nove pessoas, que correspondeu a mais do dobro dos que saíram das fileiras da diretoria da Jubaíba. Consta, ainda, o seguinte na legenda de outra foto do Álbum Histórico: “...e quantos jubaibanos ingressarão (nos Seminários) em 1976 e nos anos seguintes?” Esta pergunta merece uma resposta. Quem se habilita a registrar essa parte da história? [v] Posso dar o empurrão inicial, com uma lista sem maiores pretensões, mas com grande conteúdo oculto nas histórias individuais, incluindo aqueles nomes de 1975, lembrando que a grande precursora e inspiração nesse sentido foi Maria Betânia, oriunda da PIB de Campina Grande. Sendo assim, vamos lá, pela ordem alfabética, e sem a pretensão de citar todos os nomes: (1) Abraão; (2) Abraão Júnior; (3) Ademar; (4) Alberto; (5) Betânia; (6) Eli; (7) Eliezer; (8) Elizete; (9) Estêvam; (10) Gustavo; (11) Jairo; (12) João Félix; (13) Josebias (irmão carnal de Abraão); (14) Josué Elias; (15) Leandro; (16) Linaldo; (17) Loidimar; (18) Nidoval; (19) Paulo Faustino; (20) Renivaldo; (21) Walkíria Lucena. Solicito que continuem acrescentando nomes à relação, a fim de melhor registrar a lista de jubaibanas e jubaibanos que estudaram nos seminários espalhados pelo Brasil. E, ao comentarem neste Blog, lembrem-se de registrar seus nomes no final, a fim de identificar a pessoa responsável pelo comentário.


GALERIA DE FOTOS

FOTO 2 ‒ 1975: A querida Olga Silva aquece o pequeno grupo de jubaibanos, que de conjunto musical não tinha nada, enquanto as vozes dos componentes ressoam na antiga capela do Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em Recife, sendo, da esq./p.dir.: Paulinho, Estêvam, Eli, Jairo, Eliezer e Renivaldo. Esta foto está no álbum histórico.
FOTO 3 ‒ 1975: quatro jubaibanos e dois queridos colegas ladeiam o professor José Almeida Guimarães em intervalo de aula de filosofia. São eles, da esq./p.dir.: Eli, o maranhense Hamilton, hoje pastor em São Luís, MA, Renivaldo, o pernambucano Charles, Estêvam, hoje pastor em João Pessoa, PB, e Jairo.
FOTO 4 ‒ 1976: importante momento de conferências no Seminário, com orador internacional. Da esq./p.dir.: Jairo, Elizete, Eli, Jaubas, Cruzinha, Estêvam, o conferencista Téo, indiano, coordenador da juventude na Aliança Batista Mundial, Charles Dickson, Renivaldo, Eliezer, Olga e Paulo Faustino.
FOTO 5 ‒ 1976: três jubaibanos e uma jubaibana em viagem pelo Nordeste e Sudeste, como componentes do Coral Sinfônico do Seminário, sob a regência de Fred Spann: Elizete, Eli, Eliezer e Renivaldo.
FOTO 6 ‒ 1976: outro momento de intervalo na viagem do Sinfônico. Aparecem, nesta foto, uma jubaibana, Elizete, e três jubaibanos: Eli, Eliezer e Renivaldo.
FOTO 7 ‒ Novembro de 1979: o autor recebe o diploma de bacharel em teologia das mãos do Reitor dr. David Mein, no templo da Igreja Batista da Capunga. Na época, já como seminarista e convidado para o pastorado da Primeira Igreja Batista de Beberibe, em Recife, onde permaneceu até março de 1993. Exonerou-se para continuar os estudos, interrompidos em 1980 por conta da demanda na igreja, no seminário e no banco.
FOTO 8 ‒ Os três primeiros presidentes da Jubaíba (esq.p/dir.): Eliezer (1972/1973), Renivaldo (1974) e Abraão (1975).

FOTO 9 ‒ 08/12/1974: Depois de 46 anos o autor retornou ao Seminário Batista de Recife, dia 10/11/2021 como pesquisador, para uma tentativa que imaginou infrutífera por conta de tantos anos que já se passaram. Mas eis que por intermédio do querido professor Ramos André, que o encaminhou a Niege, que, por sua vez, solicitou autorização de Ronaldo Robson, coordenador acadêmico, a tentativa foi exitosa. E, através de Niege, responsável pela secretaria do STBNB, o milagre aconteceu, pois o autor já encontrou o material separado e à disposição para pesquisa. Graças à cooperação e tempestividade da simpática e eficiente funcionária, teve acesso aos registros pessoais dos três primeiros presidentes da Jubaíba, onde constam dados importantes para esta publicação, inclusive a experiência de chamada. Aqui, os dados do primeiro presidente, Eliezer Lourenço da Silva.




FOTO 10 ‒ 12/1974: Nas cinco laudas datilografadas, acima, constam as informações de “Conversão, chamada ao ministério e trabalho na causa de Deus” referentes ao segundo presidente da Jubaíba, José Renivaldo Rufino.

FOTO 11 ‒ 1979: O terceiro presidente da Jubaíba, Abraão Barbosa da Silva, cumpriu seu mandato em 1975, e só ingressou no Seminário quatro anos depois. Acima, seus dados pessoais e vocacionais requeridos pela instituição.


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NOTAS
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[i] A pesquisa, aqui, é delimitada apenas aos que foram ao Seminário na época dessa efervescência nos quadros da organização.

[ii] Em conversa com Ramos André sobre o desejo de ter acesso a esses documentos, já em 2021, o autor foi encaminhado a Niege, que trabalha na secretaria do Seminário, que, por sua vez, conseguiu a autorização do coordenador acadêmico Ronaldo Robson. E assim se teve acesso a esse material tão raro, tão importante, e que segue em fac-símile na galeria de fotos. Nossos agradecimentos a essas três pessoas tão importantes para a consecução deste artigo.  

[iii] Só para que se entenda a responsabilidade que recaía sobre os ombros de alguns desses jovens, em 1975 o autor desempenhava os seguintes cargos: 01) Funcionário do Banco do Nordeste, agência de Campina Grande, com oito horas diárias de expediente; 02) Presidente da Jubaíba; 03) Diretor de Rádio e Televisão do Departamento da Junta Estadual; 04) Primeiro Secretário da Primeira Igreja Batista de Campina Grande; 05) Diretor da Escola Bíblica Dominical; 06) Diretor do Departamento de Membros da igreja; 07) Participante do Coral da igreja.

[iv] Ver O Jornal Batista de 21/12/1975, p. 5.  

[v] O livro histórico e comemorativo lançado pela Primeira Igreja Batista de Campina Grande nos cem anos de sua organização já apresenta uma relação, mas o que pretendemos, aqui, é a relação de paraibanas e paraibanos, ou jubaibanos e jubaibanas, que estiveram nos seminários, até mesmo quem não seguiu a carreira ministerial, ou quem seguiu por um período, como é o caso do autor, que pastoreou apenas uma igreja durante treze anos: Primeira Igreja Batista de Beberibe, dezembro/1979 a março/1993.  


 NOTA DA FOTO 1

[i] O ano de 1979 marcou a chegada de Abraão Barbosa da Silva ao Seminário de Recife.

[ii] Nidoval morreu em 2021, em consequência da Covid-19.

[iii] José Loidimar Cavalcanti morreu em 30/12/2019, depois de uma enfermidade mais ou menos longa.