23 de setembro de 1972, Acampamento Batista, Lagoa
Seca, PB
Sete moças e quinze rapazes desfilaram por ocasião da escolha do símbolo [i]
A JUBAÍBA VESTIDA DE CORES E SÍMBOLOS [ii]
ℛenivaldo
ℛufino
A Jubaíba
é uma ideia que deu certo. Uma juventude em ebulição é o que se vê após seu surgimento
em 1972. Unir jovens de igrejas de todos os rincões do Estado da Paraíba foi um
desafio extraordinário e inovador. A força jovem se alia no desejo de juntar aquilo
que estava separado, espalhado, fragmentado, ou seja, unir para atrair e
expandir. A preocupação que antes se concentrava apenas na igreja local agora
toma nova força e o que era fragmentário se torna unitário. Os jovens precisavam
de vozes que os unissem e os tornassem um corpo sólido, de presença marcante, definitiva,
assim como os demais batistas desde exatos cinquenta anos atrás. É como se a
juventude de repente se transformasse em uma grande igreja. Barreiras são
transpostas, com certa resistência da parte de alguns, e ocorre evolução rápida
como se fora um fogo a se alastrar para todos os lados. Entretanto, a Jubaíba ainda
estava desprovida, mesmo registrada e nomeada. Era preciso ornamentá-la com
vestes talares, simbólicas e multicoloridas. E assim foi feito.
O dia
23 de setembro de 1972 é aguardado com ansiedade. A Juventude Batista da Paraíba como organização era só uma criança
que nem um ano completara. Já demonstrava vigor e projetos ousados, apesar de
tão nova: visitação às mocidades locais ‒ quer no interior quer na capital ‒,
evangelização, sociabilidade, acampamentos e até congresso estadual. Pena que
não houve nenhum projeto social e político de envergadura e seriedade,
impedimento esse que ocorreu antes mesmo do difícil começo. Muita água rolaria
até a concretização desses ideais de caráter interno.
Agora era
preciso incentivar ao planejamento imediato, um dos quais visava criar a
vestimenta adequada para a organização. Essa é apenas uma parte, pois, enquanto
isso, a comunicação entre alguns membros da diretoria se intensificava, mesmo sem
celular e algoritmo como os de hoje. A eficiente correspondência era manuscrita
e via correios. Muitas dessas cartas ainda estão arquivadas. Tudo feito a fim
de convocar ao encontro para a escolha do símbolo da nova organização. A
juventude é também desafiada a exercer a habilidade artística e participar da
disputa, encaminhando contribuições pessoais de desenhos-símbolos para
representar a Jubaíba oficialmente. O chamado da liderança é atendido com
tempestividade, pois vinte e dois desenhos entram no páreo. A concorrência
inesperada é extremamente animadora. O prêmio a quem vencesse seria a
publicação do resultado em reportagem na Revista Mocidade Batista, da JUMOC,
inclusive com foto da pessoa vitoriosa.
O
sistema de propagação do futuro evento depende do envolvimento de toda a
juventude e também da liderança. É preciso, no entanto, cuidar dos detalhes
para o dia do encontro que se aproxima. A confecção das vinte e duas camisas,
dos cartazes e das faixas ficam sob os cuidados de jubaibanos peritos, que
colaboram com a participação pessoal e a necessária arte para atender à grande demanda.
Três nomes são relevantes e imprescindíveis a esse e aos grandes desafios
gráficos do futuro: Jeová Bezerra de Oliveira (04.10.1932-13.09.2016, vinte e
um dias para completar 84 anos), Jailton dos Santos Barbosa e João Félix, hoje
pastor e Secretário Geral dos Batistas Paraibanos. A faixa principal continha todos
os desenhos concorrentes e uma interrogação bem no centro, que tomava toda sua
largura. Tudo foi elaborado com esmero e apurado grau de perfeição, graças ao
senso de presteza, responsabilidade e dedicação desses mestres da arte, que
lutaram até contra o tempo para corresponder aos desafios da demanda jubaibana.
Palavras que representam bem essa preocupação foram escritas mais recentemente
pelo próprio Jailton, que esteve envolvido no empenho da confecção do material
do encontro. Diz ele: “...participei da produção. Foi uma loucura. Muitas artes
pra fazer, revelar e imprimir com pouco tempo para isso! Jeová estressadíssimo,
com medo de não dar tempo”. São esses detalhes aparentemente pequenos que também
fazem parte do avanço da Jubaíba em direção ao futuro. Parece que cada jovem
sentia o dever moral de participar e dar continuidade ao projeto de
desenvolvimento da organização.
A mesa
julgadora, com a imensa faixa em sua retaguarda, foi presidida por Agostinho
Santiago, e contou ainda com presenças como as do pastor José Ednaldo
Cavalcanti ‒ orador da ocasião ‒, Eliezer Lourenço ‒ fundador e primeiro
presidente ‒, e Ritinha Oliveira, funcionária da Junta, entre outros. Compareceram
mais de cem jovens provenientes de algumas igrejas do Estado. Sete moças e
quinze rapazes aceitaram o desafio de desfilar diante dos jurados e da seleta
assistência, vestindo as camisas com os desenhos concorrentes. O encontro
parecia um desfile de moda. Só faltavam os holofotes da fama. A cada
apresentação era lido o histórico descrevendo o significado da simbologia do
traçado artístico. A festa se prolongou o tempo suficiente para a fala do
presidente, a mensagem do orador que foi especialmente convidado para a
ocasião, o fechamento da votação e a apresentação do resultado, tudo regado a
muitos cânticos, dinamismo e alegria.
Naquele momento a Jubaíba se vestia de cores e significados simbólicos, representados no desenho vencedor. A primeira letra da sigla continha representação múltipla e ao mesmo tempo estilizada, com uma mistura artística que liga a organização aos primitivos cristãos, aos batistas brasileiros e a cores do nosso país, que em 1972 comemorou Sesquicentenário de Independência. O peixe em sentido vertical formando a letra “j” aponta para o alto e liga a Jubaíba ao cristianismo primitivo. O verde e amarelo das letras contrasta com o preto e vermelho das cores representativas do Estado da Paraíba no mapa que serve de fundo à sigla. Sendo assim, as vestes talares continham quatro cores expressivas e significativas, além da riqueza de uma simbologia singular. Por isso mesmo constava do histórico do desenho vencedor, e com muita propriedade: “Da Paraíba pequenina nasce uma Jubaíba gigantesca” (cfe. RUFINO, J. R., in Revista Mocidade Batista, 2º trimestre 1973, p. 44). É o alvorecer de um novo tempo, com trabalho dinâmico de uma juventude coesa no mesmo propósito, até que as águas do mar da vida tentem soçobrar a frágil embarcação. Mas aí já é assunto para uma próxima publicação
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FOTOS QUE FALAM
Eliezer Lourenço, fundador e primeiro presidente, dirige sua palavra à juventude presente ao encontro de 23 de setembro de 1972.
Pastor José Ednaldo Cavalcanti, da Primeira Igreja Batista de Campina Grande, orador especialmente convidado para a ocasião.
[i] Pesquisei nos recônditos de minha
mente o que pude, pedi socorro à “jovem guarda” da Jubaíba para tentar
preencher as lacunas, mas identificamos apenas dezessete e continuamos com cinco
espaços em branco, que podem ser preenchidos agora, quem sabe, pelas pessoas
que lerem este artigo e que por acaso se lembrem de algum desses nomes. Com a
ajuda de Luzia Freire, Zueudon Lucena e Luiz Carlos Farias,
consegui chegar ao seguinte resultado: (agachados, da esquerda para a direita) 1] Ronaldo, 2] Zueudon,
3] ?, 4] Zé Vaz, 5] Zacarias (identificado por Luiz Carlos), 6] Bonifácio,
7] Luiz Carlos; (em pé, no mesmo sentido) 8]
Misael (identificado por Zueudon), 9] Edilson, 10] Sara,
11] Tiago, 12] Joseneide, 13] Jailton, 14] ?, 15] Lídia,
16] Socorro (identificada por Luzia Freire), 17] Joran, 18] Ediza
(identificada por Luiz Carlos), 19] Ademar, 20] ?, 21] ?, 22] ?. Sendo
assim, permanecem em aberto apenas cinco, ou seja, os números 3, 14, 20, 21 e
22 (este não aparece na foto, mas a reportagem da Revista Mocidade Batista
registra que foram vinte e dois concorrentes).
A
foto original do grupo está em preto-e-branco, mas graças à inteligência
artificial dos algoritmos e ao privilégio de domínio dessa ciência por um dos
integrantes da “jovem guarda da Jubaíba”, justamente Luiz Carlos Farias, temos
essa bela foto também a cores. Optei por publicar a original na abertura do
artigo, pois a cópia a cores ficou com menor definição.
Meus agradecimentos a
quem está colaborando na reconstrução e reconstituição da bela história dos
primeiros anos da Juventude Batista da Paraíba.
[ii] Proibida qualquer reprodução ou citação
deste artigo sem autorização do autor.