Flores de Campina Grande saúdam Loidimar, o homem feliz
Renivaldo Rufino
Recife-PE, Campina Grande-PB, 31/12/2019
Venho
pesquisando e trabalhando, há mais de vinte anos, em torno da genealogia dos
meus ancestrais e descendentes. É uma tarefa complexa, difícil, às vezes
solitária às vezes não, porém extremamente prazerosa. Quando me debruço sobre
este tema, estou em contato direto com a vida e com a riqueza de trajetórias
que estão ligadas a mim para sempre.
Meu querido amigo Loidimar
‒ contemplado agora com o eterno presente ‒ é uma daquelas pessoas
privilegiadas, pois possui admirável genealogia, haja vista já estar entrando
na quarta geração. Trata-se de um bem material e espiritual que poucos têm
acesso. Filhas e filhos, netos e netas são uma riqueza inestimável. Somente
quando me tornei avô pela primeira vez é que entendi que a natureza se
equivocou comigo, pois eu deveria ter sido primeiro avô e, só depois, pai. Nem
consigo imaginar como me sentiria sabendo que seria bisavô. Falar sobre
Loidimar, então, é falar sobre tudo isso e muito mais.
Sua trajetória é
digna da imortalidade dos imortais. Tive imensa alegria de participar do
momento quando ele se entregou aos cuidados de Jesus Cristo, juntamente com
Vanda, e se filiou à Primeira Igreja Batista de Campina Grande, da qual eu
também era membro. Ainda jovem, ousou dar continuidade ao desafiador projeto, e
foi ao Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em Recife, na busca de
preparo para o ministério cristão. De lá, sempre acompanhado de sua inseparável
companheira e de sua prole, pastoreou igrejas em pelo menos três estados
brasileiros: Paraíba, Piauí e Rio Grande do Norte. Imbuído de muita
determinação e coragem, jamais fraquejou diante das demandas ministeriais e do
digno sustento de sua família.
Sua filha, filhos,
netas e netos, herdaram de sua personalidade e do seu jeito amigo, espirituoso,
brincalhão, solícito e afetuoso para com as pessoas achegadas a sua amizade. Agora
no dia 28 de dezembro, mesmo com o pai internado em estado grave, Vallone me
encaminhou uma tocante mensagem, dizendo: “Aprendemos com ele a amar cada um de
vocês”. De fato, são imagem e semelhança tanto dele quanto dela. Nesses quase
cinquenta anos de amizade, sempre fui recebido com muito carinho, respeito e
atenção cada vez que os visitei.
O pastor Loidimar sempre
foi um amante de livros, poesia, leitura e até de filosofia. Na minha última
passagem pela sua casa, enquanto eu almoçava fora do horário corriqueiro, tive
a grande alegria de contar com a presença à mesa não apenas dele, mas também de
Vanda e Vítor. Conversamos e rimos bastante e, a determinado momento, repassei
alguns opúsculos de minha autoria. Um deles, de filosofia, tratava da noção de
verbo em Agostinho de Hipona. Disse-lhes que aquele certamente não lhes
interessaria. Mas ele nem esperou que eu terminasse, e já foi dizendo: “Pode
deixar, porque me interessa, sim!” Adquiri, recentemente, um livro muito bom e
elucidativo sobre “A palavra de Deus na palavra humana: gênero, preconceito e
tradução da Bíblia à luz da linguística”, e iria postar para ele na próxima
semana. Esse foi um dos assuntos da nossa última conversa por telefone. Este
livro ficará, agora, como herança aos seus descendentes, amantes também da boa
leitura.
Lembro-me que Loidimar
disse, certa vez, referindo-se a José Britto Barros: “Pastor Britto pertence a
uma raça de pregadores em extinção”. Anotei sua luminosa ideia quando
pesquisava, durante o mestrado em teologia, para elaborar monografia sobre o
trabalho homilético do pastor Britto. Agora digo eu, como que fazendo uma
paráfrase a sua afirmativa: José Loidimar Cavalcanti pertence a uma raça de
seres humanos em extinção. Uma raça, todavia, que será muito bem representada em
Vanda e naqueles e naquelas que descenderam dele e dela.
Para encerrar,
gostaria de fazer uma das coisas que Loidimar mais gostava de fazer, e com isso
expressar minha mais sincera gratidão e homenagem ao meu grande e querido amigo.
Esse dia trinta de dezembro marca o quadragésimo aniversário de morte do poeta
pernambucano Ulysses Lins, também escritor e memorialista, considerado um dos
mestres do Moxotó, além de Trovador do Sertão e Patriarca da Literatura
Sertaneja. Além disso, ocupou a cadeira número um da Academia Pernambucana de
Letras e representou Pernambuco na Federação das Academias de Letras do Brasil.
Foi ele ‒ e só agora eu soube disso ‒, que sugeriu o nome de Sertânia para o
então município de Alagoa de Baixo, cidade onde nasci. Sua poesia é a cara de
Loidimar, é a nossa cara nordestina:
Madrugada Sertaneja
(1) Nada mais belo eu conheço/ Que a loira madrugada / Que ao canto da passarada / Vem acordar o sertão / Que lindo o quebrar da barra / Quando aos poucos suavemente / As cortinas do Oriente / Para o céu subindo vão
(2) E quando por trás da serra / Prateada a lua aparece / E ao Sul o Cruzeiro desce / Fazendo o pelo-sinal / Ao fulgor d’uma Estrela d’Alva / E ao som dos mais doces cantos / O Sertão goza os encantos / De uma Aurora Boreal
(3) O xexéu-clarim das matas / Solta o grito alvissareiro / Canta o galo no poleiro / Ao longe chora a acauã / O campo é todo uma orquestra / Tudo respira a poesia / É toda incenso e magia / A natureza pagã
(4) Mugem as vacas saudosas / Balem nos apriscos as ovelhas / Zumbem pelo ar as abelhas / Grita alegre o bem-te-vi / Além canta a seriema / Gorjeia o concriz em festa / E no seio da floresta / Geme oculta a juriti
(5) Meu Sertão quanta saudade / Dos áureos tempos da infância / Quando eu recordo com ânsia / Aquela quadra louçã / Em que feliz no teu seio / Admirava inocente / Tua beleza esplendente / Nos prelúdios da manhã
(6) Ah esquecer é impossível / O cheiro das madrugadas / Quando à noite as trovoadas / Te lavavam todo o chão / Como esquecer-te eu não posso / Por mais longe que estivesse / Porque de ti não se esquece / Quem veio à luz no Sertão
LOIDIMAR E VANDA SE ETERNIZAM NA FILHA E NOS FILHOS
José Loidimar Cavalcanti (13/09/1945-30/12/2019,
74) e Vanda Batista Cavalcanti (06/12/1940) geraram: 1. Valéria Batista Cavalcanti (12/04/1967) / 2. Vallone Batista Cavalcanti (31/08/1969) / 3. Vandimar Batista Cavalcanti (14/02/1973) / 4. Vladimir Batista Cavalcanti (23/02/1975) / 5. Vítor Hugo Batista Cavalcanti (09/06/1982) / Data
do casamento: 04/02 (civil) e 05/03/1966 (religioso) / Oficiante: Padre José Bonifácio
LOIDIMAR E VANDA SE ETERNIZAM NAS NETAS E NOS NETOS
1. Valéria
Batista Cavalcanti Cordeiro (12/04/1967) e Bento
de Sousa Cordeiro (22/10/1964) geraram: 1.1. Gabriela Batista Cavalcanti Cordeiro (10/09/1993) / 1.2. José Matheus Cordeiro Neto (02/08/1996) / 1.3. Valesca Caroline Cavalcanti Cordeiro (05/06/1998) / 1.4. Raissa Batista Cavalcanti Cordeiro (20/03/2003) / Data do casamento: 09/07/1989 / Oficiantes:
Pastores José Loidimar Cavalcanti e José Renivaldo Rufino
2. Vallone
Batista Cavalcanti (31/08/1969) e Suely Matos Cavalcanti (30/01/1968) geraram: 2.1. Felipe Matos Cavalcanti (20/03/1990) / 2.2. Ana
Caroline Matos Cavalcanti (08/11/1991) / Data do casamento: 04/02/1989 / Oficiante: Pastor
José Loidimar Cavalcanti
3. Vandimar
Batista Cavalcanti (14/02/1973) e Rossandra Kerli Farias Cavalcanti (23/07/1973) geraram: 3.1. Danilo Cavalcanti (08/04/1997) / 3.2. Rebeca Cavalcanti (21/09/1998) / Data do casamento: 01/10/1996 / Oficiantes: Pastores José
Loidimar Cavalcanti, Sebastião Tavares da Silva Sobrinho, José Renivaldo Rufino
e Armando Torres
4. Vladimir Batista Cavalcanti (23/02/1975) e Ana
Maria Gomes da Silva Cavalcanti (15/02/1975) geraram: 4.1. Marie Anne Gomes Cavalcanti (17/08/1994) / 4.2. Camila Gomes Cavalcanti (08/10/1996) / 4.3. Giovanna Gomes Cavalcanti (12/03/2000) / Data do casamento: 16/04/1997 / Oficiante: Pastor
José Loidimar Cavalcanti
5. Vítor
Hugo Batista Cavalcanti (09/06/1982) e Jean
Karla Padilha Cavalcanti (19/09/1984) geraram: 5.1. Jasmim Padilha Cavalcanti (18/11/2013) / 5.2. Nicolas Padilha Cavalcanti (31/08/2020) / Data do casamento: 12/04/2012 / Oficiantes:
Pastores José Loidimar Cavalcanti e Evandi Ferreira Monteiro
LOIDIMAR E VANDA SE ETERNIZAM NAS BISNETAS E NOS BISNETOS
2.2. Ana Caroline Matos Cavalcanti Silva (08/11/1991)
e Carlos Antônio Gomes da Silva Filho (22/08/1994) geraram: 2.2.1. Ana Lara Cavalcanti Silva (08/07/2020) / Data do casamento: 08/12/2018 / Oficiante: Pastor
José Loidimar Cavalcanti
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AMIGO MAIS CHEGADO QUE IRMÃO
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16 e 31/03/2020
Existe amigo
mais chegado que irmão e irmão tão chegado quanto esse tipo de amigo. Quando
penso em Loidimar, logo me vem à mente essa sagrada amizade que nos uniu desde o
início e que se estendeu aos demais familiares até os dias de hoje.
Dia 03 de setembro
de 1972 ele e Vanda foram batizados pelo pastor José Ednaldo Cavalcanti e se
tornaram membros da Primeira Igreja Batista de Campina Grande. Foi imenso o meu
privilégio em anotar seus nomes após a decisão pública e também assinar seus
certificados de batismo. Começava, ali, uma amizade que se perpetuaria. Na
época, Vanda estava grávida de Vandimar. Valéria tinha quatro anos e Vallone
três.
As grandes
amizades são alicerçadas sobre pequenas coisas. Foi assim que aconteceu conosco
desde o início. Confiança e reciprocidade foram peças chaves nessa construção. Durante
todos esses anos estivemos juntos, mesmo que distantes fisicamente, pois sempre
mantivemos contato. Boqueirão, Santa Rita, Parnamirim e Tibiri foram paradas
obrigatórias, sobretudo em períodos de férias. Chegar à casa deles, sozinho ou
com Cosma, Joran e Raquel, era chegar a minha própria casa. Jamais mediram
esforços para nos oferecer o melhor. Nossas conversas sempre foram regadas a
muitas risadas, camaradagem e seriedade, assim como ocorre entre amigos mais
chegados que irmãos.
A amizade
inclusiva é outro segredo da durabilidade dessa nobre virtude. Vanda e Loidimar
espalharam a luz de suas vidas nas vidas ao seu redor a tal ponto, que não faz
diferença alguma a consideração e apreço que emana de cada pessoa dessa rica
geração. O contato com qualquer uma delas é como se fora o contato com o
próprio casal. A solicitude, atenção, carinho e simpatia são uma herança comum
entre eles e elas. Ser afável não é exceção, é regra exposta, porém não
imposta. Basta dizer que, graças a essa inclusão e à atenção de uma dessas
pessoas, Suely, descobri a grafia correta do nome de Vallone, imprescindível no
caso dos registros genealógicos. São essas coisas aparentemente pequenas que validam
atitudes que passariam despercebidas.
Alguém pediu cópia
da minha fala dolorosa do dia 31 de dezembro ‒ cujo original repassei para a
família ‒, mas minha intenção era publicar somente quando desse o ponta pé inicial
no registro dessa geração memorável. Vanda já me falara do projeto. Decidi
fazer o registro, até mesmo como surpresa, o que somente hoje se concretizou
com a informação do último dado de que necessitava. Espero que seja um estímulo
para que se dê continuidade, quer com a posteridade quer com a ancestralidade.
É uma construção que vale a pena pelo seu efeito, inspiração, riqueza. Cada
nome é fonte de histórias vitais e infindáveis, não importando a idade. Ao
pinçar pequenos acontecimentos dessas trajetórias, temos registros que valem a
pena serem autenticados na história da família. O mais recente foi apontado por
Suely, justamente nesse 31 de março de 2020: ela e Vallone casaram em
04.02.1989, Vanda e Loidimar casaram no civil também em 04.02, porém 23 anos
antes, isto é, em 1966.
As crianças que
darão o ar de sua graça até “quando” o próximo mês de “setembro vier”, representam
o fluxo vivo da geração em constante dinâmica. Elas têm muito que nos ensinar,
mesmo na vida intrauterina, pelo menos em termos filosóficos. Por isso mesmo, concluo
esse adendo com duas pequenas citações do filósofo que estudo há anos e que
frisam o valor da criança e das pequenas coisas. Confissões I, vi, 8 e XI, xxiii, 29: “Assim são as crianças, como
depois pude observar. Sem saber, elas me informaram mais daquilo que eu tinha
sido, do que o saber dos meus educadores”; “Ó Deus, concede aos homens a
possibilidade de observarem nas coisas pequenas as noções comuns às pequenas e
às grandes coisas”.