terça-feira, 31 de março de 2020

LOIDIMAR, O HOMEM FELIZ


Flores de Campina Grande saúdam Loidimar, o homem feliz

Renivaldo Rufino
Recife-PE, Campina Grande-PB, 31/12/2019
Venho pesquisando e trabalhando, há mais de vinte anos, em torno da genealogia dos meus ancestrais e descendentes. É uma tarefa complexa, difícil, às vezes solitária às vezes não, porém extremamente prazerosa. Quando me debruço sobre este tema, estou em contato direto com a vida e com a riqueza de trajetórias que estão ligadas a mim para sempre.
Meu querido amigo Loidimar ‒ contemplado agora com o eterno presente ‒ é uma daquelas pessoas privilegiadas, pois possui admirável genealogia, haja vista já estar entrando na quarta geração. Trata-se de um bem material e espiritual que poucos têm acesso. Filhas e filhos, netos e netas são uma riqueza inestimável. Somente quando me tornei avô pela primeira vez é que entendi que a natureza se equivocou comigo, pois eu deveria ter sido primeiro avô e, só depois, pai. Nem consigo imaginar como me sentiria sabendo que seria bisavô. Falar sobre Loidimar, então, é falar sobre tudo isso e muito mais.
Sua trajetória é digna da imortalidade dos imortais. Tive imensa alegria de participar do momento quando ele se entregou aos cuidados de Jesus Cristo, juntamente com Vanda, e se filiou à Primeira Igreja Batista de Campina Grande, da qual eu também era membro. Ainda jovem, ousou dar continuidade ao desafiador projeto, e foi ao Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em Recife, na busca de preparo para o ministério cristão. De lá, sempre acompanhado de sua inseparável companheira e de sua prole, pastoreou igrejas em pelo menos três estados brasileiros: Paraíba, Piauí e Rio Grande do Norte. Imbuído de muita determinação e coragem, jamais fraquejou diante das demandas ministeriais e do digno sustento de sua família.
Sua filha, filhos, netas e netos, herdaram de sua personalidade e do seu jeito amigo, espirituoso, brincalhão, solícito e afetuoso para com as pessoas achegadas a sua amizade. Agora no dia 28 de dezembro, mesmo com o pai internado em estado grave, Vallone me encaminhou uma tocante mensagem, dizendo: “Aprendemos com ele a amar cada um de vocês”. De fato, são imagem e semelhança tanto dele quanto dela. Nesses quase cinquenta anos de amizade, sempre fui recebido com muito carinho, respeito e atenção cada vez que os visitei.
O pastor Loidimar sempre foi um amante de livros, poesia, leitura e até de filosofia. Na minha última passagem pela sua casa, enquanto eu almoçava fora do horário corriqueiro, tive a grande alegria de contar com a presença à mesa não apenas dele, mas também de Vanda e Vítor. Conversamos e rimos bastante e, a determinado momento, repassei alguns opúsculos de minha autoria. Um deles, de filosofia, tratava da noção de verbo em Agostinho de Hipona. Disse-lhes que aquele certamente não lhes interessaria. Mas ele nem esperou que eu terminasse, e já foi dizendo: “Pode deixar, porque me interessa, sim!” Adquiri, recentemente, um livro muito bom e elucidativo sobre “A palavra de Deus na palavra humana: gênero, preconceito e tradução da Bíblia à luz da linguística”, e iria postar para ele na próxima semana. Esse foi um dos assuntos da nossa última conversa por telefone. Este livro ficará, agora, como herança aos seus descendentes, amantes também da boa leitura.  
Lembro-me que Loidimar disse, certa vez, referindo-se a José Britto Barros: “Pastor Britto pertence a uma raça de pregadores em extinção”. Anotei sua luminosa ideia quando pesquisava, durante o mestrado em teologia, para elaborar monografia sobre o trabalho homilético do pastor Britto. Agora digo eu, como que fazendo uma paráfrase a sua afirmativa: José Loidimar Cavalcanti pertence a uma raça de seres humanos em extinção. Uma raça, todavia, que será muito bem representada em Vanda e naqueles e naquelas que descenderam dele e dela.
Para encerrar, gostaria de fazer uma das coisas que Loidimar mais gostava de fazer, e com isso expressar minha mais sincera gratidão e homenagem ao meu grande e querido amigo. Esse dia trinta de dezembro marca o quadragésimo aniversário de morte do poeta pernambucano Ulysses Lins, também escritor e memorialista, considerado um dos mestres do Moxotó, além de Trovador do Sertão e Patriarca da Literatura Sertaneja. Além disso, ocupou a cadeira número um da Academia Pernambucana de Letras e representou Pernambuco na Federação das Academias de Letras do Brasil. Foi ele ‒ e só agora eu soube disso ‒, que sugeriu o nome de Sertânia para o então município de Alagoa de Baixo, cidade onde nasci. Sua poesia é a cara de Loidimar, é a nossa cara nordestina:

Madrugada Sertaneja

(1) Nada mais belo eu conheço/ Que a loira madrugada / Que ao canto da passarada / Vem acordar o sertão / Que lindo o quebrar da barra / Quando aos poucos suavemente / As cortinas do Oriente / Para o céu subindo vão

(2) E quando por trás da serra / Prateada a lua aparece / E ao Sul o Cruzeiro desce / Fazendo o pelo-sinal / Ao fulgor d’uma Estrela d’Alva / E ao som dos mais doces cantos / O Sertão goza os encantos / De uma Aurora Boreal

(3) O xexéu-clarim das matas / Solta o grito alvissareiro / Canta o galo no poleiro / Ao longe chora a acauã / O campo é todo uma orquestra / Tudo respira a poesia / É toda incenso e magia / A natureza pagã

(4) Mugem as vacas saudosas / Balem nos apriscos as ovelhas / Zumbem pelo ar as abelhas / Grita alegre o bem-te-vi / Além canta a seriema / Gorjeia o concriz em festa / E no seio da floresta / Geme oculta a juriti

(5) Meu Sertão quanta saudade / Dos áureos tempos da infância / Quando eu recordo com ânsia / Aquela quadra louçã / Em que feliz no teu seio / Admirava inocente / Tua beleza esplendente / Nos prelúdios da manhã

(6) Ah esquecer é impossível / O cheiro das madrugadas / Quando à noite as trovoadas / Te lavavam todo o chão / Como esquecer-te eu não posso / Por mais longe que estivesse / Porque de ti não se esquece / Quem veio à luz no Sertão

LOIDIMAR E VANDA SE ETERNIZAM NA FILHA E NOS FILHOS

José Loidimar Cavalcanti (13/09/1945-30/12/2019, 74) e Vanda Batista Cavalcanti (06/12/1940) geraram1. Valéria Batista Cavalcanti (12/04/1967) / 2. Vallone Batista Cavalcanti (31/08/1969) / 3. Vandimar Batista Cavalcanti (14/02/1973) / 4. Vladimir Batista Cavalcanti (23/02/1975) / 5. Vítor Hugo Batista Cavalcanti (09/06/1982) / Data do casamento: 04/02 (civil) e 05/03/1966 (religioso) / Oficiante: Padre José Bonifácio

LOIDIMAR E VANDA SE ETERNIZAM NAS NETAS E NOS NETOS

1. Valéria Batista Cavalcanti Cordeiro (12/04/1967) Bento de Sousa Cordeiro (22/10/1964) geraram1.1. Gabriela Batista Cavalcanti Cordeiro (10/09/1993) / 1.2. José Matheus Cordeiro Neto (02/08/1996) / 1.3. Valesca Caroline Cavalcanti Cordeiro (05/06/1998) / 1.4. Raissa Batista Cavalcanti Cordeiro (20/03/2003) / Data do casamento: 09/07/1989 / Oficiantes: Pastores José Loidimar Cavalcanti e José Renivaldo Rufino

2. Vallone Batista Cavalcanti (31/08/1969) Suely Matos Cavalcanti (30/01/1968) geraram2.1. Felipe Matos Cavalcanti (20/03/1990) / 2.2.  Ana Caroline Matos Cavalcanti (08/11/1991) / Data do casamento: 04/02/1989 / Oficiante: Pastor José Loidimar Cavalcanti

3. Vandimar Batista Cavalcanti (14/02/1973) Rossandra Kerli Farias Cavalcanti (23/07/1973) geraram3.1. Danilo Cavalcanti (08/04/1997) / 3.2. Rebeca Cavalcanti (21/09/1998) / Data do casamento: 01/10/1996 / Oficiantes: Pastores José Loidimar Cavalcanti, Sebastião Tavares da Silva Sobrinho, José Renivaldo Rufino e Armando Torres 

4. Vladimir Batista Cavalcanti (23/02/1975) Ana Maria Gomes da Silva Cavalcanti (15/02/1975) geraram4.1. Marie Anne Gomes Cavalcanti (17/08/1994) / 4.2. Camila Gomes Cavalcanti (08/10/1996) / 4.3. Giovanna Gomes Cavalcanti (12/03/2000) / Data do casamento: 16/04/1997 / Oficiante: Pastor José Loidimar Cavalcanti

5. Vítor Hugo Batista Cavalcanti (09/06/1982) e Jean Karla Padilha Cavalcanti (19/09/1984) geraram5.1. Jasmim Padilha Cavalcanti (18/11/2013) / 5.2. Nicolas Padilha Cavalcanti (31/08/2020) / Data do casamento: 12/04/2012 / Oficiantes: Pastores José Loidimar Cavalcanti e Evandi Ferreira Monteiro

LOIDIMAR E VANDA SE ETERNIZAM NAS BISNETAS E NOS BISNETOS

2.2.  Ana Caroline Matos Cavalcanti Silva (08/11/1991) Carlos Antônio Gomes da Silva Filho (22/08/1994) geraram2.2.1. Ana Lara Cavalcanti Silva (08/07/2020) / Data do casamento: 08/12/2018 / Oficiante: Pastor José Loidimar Cavalcanti

*************************************************************************

AMIGO MAIS CHEGADO QUE IRMÃO

16 e 31/03/2020
Existe amigo mais chegado que irmão e irmão tão chegado quanto esse tipo de amigo. Quando penso em Loidimar, logo me vem à mente essa sagrada amizade que nos uniu desde o início e que se estendeu aos demais familiares até os dias de hoje.
Dia 03 de setembro de 1972 ele e Vanda foram batizados pelo pastor José Ednaldo Cavalcanti e se tornaram membros da Primeira Igreja Batista de Campina Grande. Foi imenso o meu privilégio em anotar seus nomes após a decisão pública e também assinar seus certificados de batismo. Começava, ali, uma amizade que se perpetuaria. Na época, Vanda estava grávida de Vandimar. Valéria tinha quatro anos e Vallone três.
As grandes amizades são alicerçadas sobre pequenas coisas. Foi assim que aconteceu conosco desde o início. Confiança e reciprocidade foram peças chaves nessa construção. Durante todos esses anos estivemos juntos, mesmo que distantes fisicamente, pois sempre mantivemos contato. Boqueirão, Santa Rita, Parnamirim e Tibiri foram paradas obrigatórias, sobretudo em períodos de férias. Chegar à casa deles, sozinho ou com Cosma, Joran e Raquel, era chegar a minha própria casa. Jamais mediram esforços para nos oferecer o melhor. Nossas conversas sempre foram regadas a muitas risadas, camaradagem e seriedade, assim como ocorre entre amigos mais chegados que irmãos.      
A amizade inclusiva é outro segredo da durabilidade dessa nobre virtude. Vanda e Loidimar espalharam a luz de suas vidas nas vidas ao seu redor a tal ponto, que não faz diferença alguma a consideração e apreço que emana de cada pessoa dessa rica geração. O contato com qualquer uma delas é como se fora o contato com o próprio casal. A solicitude, atenção, carinho e simpatia são uma herança comum entre eles e elas. Ser afável não é exceção, é regra exposta, porém não imposta. Basta dizer que, graças a essa inclusão e à atenção de uma dessas pessoas, Suely, descobri a grafia correta do nome de Vallone, imprescindível no caso dos registros genealógicos. São essas coisas aparentemente pequenas que validam atitudes que passariam despercebidas.
Alguém pediu cópia da minha fala dolorosa do dia 31 de dezembro ‒ cujo original repassei para a família ‒, mas minha intenção era publicar somente quando desse o ponta pé inicial no registro dessa geração memorável. Vanda já me falara do projeto. Decidi fazer o registro, até mesmo como surpresa, o que somente hoje se concretizou com a informação do último dado de que necessitava. Espero que seja um estímulo para que se dê continuidade, quer com a posteridade quer com a ancestralidade. É uma construção que vale a pena pelo seu efeito, inspiração, riqueza. Cada nome é fonte de histórias vitais e infindáveis, não importando a idade. Ao pinçar pequenos acontecimentos dessas trajetórias, temos registros que valem a pena serem autenticados na história da família. O mais recente foi apontado por Suely, justamente nesse 31 de março de 2020: ela e Vallone casaram em 04.02.1989, Vanda e Loidimar casaram no civil também em 04.02, porém 23 anos antes, isto é, em 1966.  
As crianças que darão o ar de sua graça até “quando” o próximo mês de “setembro vier”, representam o fluxo vivo da geração em constante dinâmica. Elas têm muito que nos ensinar, mesmo na vida intrauterina, pelo menos em termos filosóficos. Por isso mesmo, concluo esse adendo com duas pequenas citações do filósofo que estudo há anos e que frisam o valor da criança e das pequenas coisas. Confissões I, vi, 8 e XI, xxiii, 29: “Assim são as crianças, como depois pude observar. Sem saber, elas me informaram mais daquilo que eu tinha sido, do que o saber dos meus educadores”; “Ó Deus, concede aos homens a possibilidade de observarem nas coisas pequenas as noções comuns às pequenas e às grandes coisas”.